A presença de modelos de inteligência artificial na moda voltou a ser destaque após uma campanha da Guess veiculada na edição de agosto de 2025 da Vogue americana. A princípio, as imagens parecem comuns — mulheres jovens, bonitas e estilosas exibindo as peças da nova coleção. No entanto, a pequena legenda no rodapé revela: as modelos são criações digitais feitas por IA.

A iniciativa, criada pela agência britânica Seraphinne Vallora, reacendeu discussões sobre os rumos do setor da moda, sobretudo em relação à representatividade, empregos e os impactos sociais e éticos dessa tecnologia.

A reação do público e o impacto nas redes sociais

A revelação de que as modelos não eram reais causou uma enxurrada de críticas nas redes sociais. Vídeos e comentários viralizaram rapidamente, com milhares de pessoas apontando o uso da IA como uma forma de apagar corpos reais e reforçar padrões inatingíveis.

“Se já era difícil conviver com comparações a modelos retocadas, agora estamos competindo com mulheres que nem existem?”, escreveu um usuário no TikTok, sintetizando o sentimento de muitos.

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Por que marcas estão adotando modelos de IA?

Segundo Valentina Gonzalez e Andreea Petrescu, fundadoras da agência criadora da campanha, a intenção não é substituir completamente os modelos reais, mas oferecer novas possibilidades às marcas. A IA permite que campanhas sejam produzidas com maior agilidade e menor custo, sem deixar de lado a estética desejada pelo cliente.

Ainda assim, mesmo diante da justificativa comercial, a crítica persiste: por que não contratar uma mulher real com o perfil desejado, em vez de gerar uma versão digital com base em padrões pré-estabelecidos?

Questões de diversidade e representatividade

Um dos pontos mais sensíveis da discussão é a falta de diversidade nos modelos virtuais apresentados. A maioria possui traços considerados “convencionalmente bonitos”: pele clara, cabelo liso, feições simétricas e corpo padrão. Embora as criadoras afirmem que há liberdade técnica para gerar qualquer tipo de corpo, elas admitem seguir as preferências dos clientes — o que, infelizmente, ainda reflete padrões estéticos excludentes.

Como a indústria está reagindo

A Vogue americana declarou que nunca publicou editoriais com modelos de IA, embora a edição de Singapura já tenha usado avatares gerados digitalmente em 2023. Outras marcas como Mango, Levi’s e H&M também já apostaram em modelos virtuais, com diferentes propósitos — desde rapidez na produção de conteúdo até a criação de gêmeos digitais de modelos reais.

Especialistas alertam para o risco de perda de oportunidades para profissionais da moda, como modelos, fotógrafos, maquiadores e stylists, além da padronização ainda maior da beleza.

O futuro da moda entre o real e o digital

Apesar do avanço das tecnologias, muitos acreditam que os modelos reais continuarão sendo essenciais, especialmente por sua conexão emocional e autenticidade. Ainda assim, o crescimento da IA é inegável, e especialistas pedem por uma regulamentação mais clara.

Leis como a recém-aprovada “Fashion Workers Act” em Nova York mostram que a indústria está começando a se movimentar para proteger seus profissionais diante de um cenário cada vez mais digitalizado.

Fonte: CNN