Produtores de SC estocam toneladas de arroz por preço baixo e concorrência do Mercosul

Da safra de 2017, 30 mil toneladas do produto não foram vendidas.

Recentemente, uma matéria divulgada no início de março pelo G1 Santa Catarina, aponta que os produtores de arroz do estado não venderam cerca de 30 mil toneladas do produto colhido em 2017 esperando o preço de mercado subir.

Durante o ano de 2017, só houve queda no valor da saca de 50 quilos, que passou de R$ 46 para R$ 33. Caminhões com arroz estão chegando nos silos com novas levas do grão, mas o estoque de 2017 é grande.

Esse valor médio da saca apresentado para a safra atual, de 33 reais, é praticamente igual ao valor pago na safra de 2004. Isso mesmo! No ano de 2004, conforme informa o site agrolink.com.br, o preço da saca no mês de abril daquele ano era 32,9675 reais, para o estado de Santa Catarina. Só para se ter uma base, no mesmo ano, em 2004, o salário do brasileiro era de 260 reais, hoje é de 954 reais, ou seja, de lá para cá sofreu um reajuste de quase 300% e da mesma forma é considerado inadequado para custo de vida de uma família brasileira. Enquanto o valor do arroz retrocedeu.

"Infelizmente nós estamos indo na casa do associado, do agricultor, limitando o depósito de arroz dessa safra que estamos recebendo", disse o presidente da Cooperativa Regional Agropecuária Sul Catarinense (Coopersulca), Arlindo Manenti.

Um dos motivos da crise é a concorrência com o mercado externo. Muitas indústrias estão comprando do Mercosul, que é mais barato. Segundo o presidente do Sindiarroz, Silvério Orzechowski, o arroz do sul do país está custando em torno de US$ 14, quando o do paraguaio é US$7.

Assim como nos demais municípios da região Vale Oeste, a colheita de arroz também já iníciou no município de Rio do Campo, onde até o momento cerca de 10% das lavouras foram colhidas. Conforme informações junto ao setor de agricultura do município, a expectativa de produtividade, em ralação ao ano anterior, é que esta safra seja menor.

Segundo os responsáveis pelo setor, o que se observa é a diminuição na produtividade das variedades SCS 116 Satoru e SCS Miura. Já as primeiras áreas colhidas da variedade mais plantada no município, a SCS 121 CL, tem mostrado boa produtividade. No geral, espera-se que cerca de 180.000 sacas sejam colhidas em Rio do Campo, mas que em relação ao ano passado deve sofrer uma baixa relativa.

A Secretaria de Agricultura, junto com a Epagri, auxilia os produtores de arroz com assistência técnica diretamente nas propriedades. A secretaria promove também vários cursos de capacitação para os agricultores durante o ano, e além disso todo ano são promovidos dias de compra, em parceria com a Cravil e Epagri, informa o Secretário Municipal de Agricultura, Lenoir Menegazzi.

"Esse ano é importante relatar que o município irá sediar o Seminário Regional do Arroz no dia 29 de julho. Esse seminário é o evento mais importante em âmbito regional e vem ocorrendo há vários anos", cita Lenoir.

Para os agricultores que se interessam em fazer um treinamento na cultura do arroz ocorre todo ano na estação experimental da Epagri de Itajaí um curso, com duração de 4 dias, aonde é tratado todos os aspectos produtivos da cultura.

Conforme o Secretário Lenoir, o arroz é uma atividade muito importante para Rio do Campo e por isso a Secretaria de Agricultura vem tentando reunir ações para fortalecer a cadeia produtiva agrícola.

Entre as produtividades agrícolas desenvolvidas no município de Rio do Campo, o arroz encontra-se na 3º posição, com receita bruta de R$ 9.998.957,00, sendo assim correspondendo à 10,5% da renda do município.

O preço do arroz teve uma forte baixa, em média sofreu um corte a R$ 33,00 a saca, em Santa Catarina, e esse preço vêm preocupando os produtores. O JATV buscou opiniões de alguns rizicultores do município e em suas palavras eles expressaram indignação quanto ao preço atual da saca. Para eles é um fator desolador e revoltante, visto que o custo da produtividade sofre acréscimos ano a ano.

Como produtor, qual sua expectativa para a safra de arroz que está em período de colheita?

Tarcísio Kestring, de 57 anos, é produtor da comunidade de Taiozinho, em Rio do Campo.

"Desde pequeno já estava envolvido com a produção de arroz, pois minha família já lidava com a cultura. Desta forma, praticamente minha vida toda, trabalho como agricultor, e cultivo arroz. Atualmente tenho 18 hectares de arroz cultivados.

Quanto à safra deste ano, não tenho ideia como será, em questões de produtividade, devido ao clima ocorrido no momento de floração do arroz e agora também na colheita, é algo que ainda está incerto. Tudo que poderia ser feito para ter uma boa safra, foi feito, de acordo com o que é necessário, mas não se pode influenciar no clima".

Mauri Garlini, de 53 anos, morador da comunidade de Taiozinho, em Rio do Campo. Mauri é produtor de arroz há 21 anos.

"Neste ano plantei 56 hectares de arroz. A expectativa quanto à colheita é a mesma que no ano anterior, que foi boa, mesmo achando que não iria dar nada devido ao clima, mas a semente está mais resistente ao frio. Estou começando a colheita agora, creio que em quantidade de sacas vamos alcançar uma quantidade considerável, porém o fator que está trazendo um grande prejuízo para nós produtores é o fator preço, que despencou nesta safra. Mesmo que a quantidade de sacas se mantenha a lucratividade será bem menor".

Valciomar Junkes reside próximo ao centro de Rio do Campo, tem 36 anos, é produtor de arroz há 18 anos e nesta safra tem 50 hectares plantadas.

"Neste ano está bem difícil para os agricultores, principalmente por causa do preço da saca que está muito diferente da colheita anterior, esse é o nosso grande problema. A produção é considerável, porém o preço é extremamente defasado".

Alvino Rafaeli, de 52 anos, é produtor de arroz na comunidade de Taiozinho, em Rio do Campo, há 42 anos. Possui 160 hectares plantados.

"Minha expectativa é ruim para este ano por duas questões: produtividade e preço. O clima frio não ajudou muito para a safra e o preço decaiu muito em ralação ao ano anterior. Se for somar a perca de preço e a perca de safra quebra pela metade a lucratividade em relação a última safra. Tudo está mais caro: os insumos, o diesel, a manutenção dos maquinários, está cada vez mais difícil trabalhar na agricultura e não temos retorno justo".

Davenir Kilcamp, tem 46 anos, é morador da comunidade de Rio Waldrich e é produtor de arroz desde pequeno, visto que seus pais já plantavam, Davenir seguiu os passos deles. Sua produção é menor, tem plantado 7 hectares.

"A produção nesta safra deve cair em 30% por interferência do clima, devido à época que foi plantado o arroz. Visto que a cultura precisa de luminosidade e calor e o clima não estava propício. Nós produtores vamos perder tanto em produção, quanto na lucratividade por causa da queda do valor da saca, que mudou drasticamente em relação a safra do ano passado".

Romaldo Cani, morador da comunidade de Rio Azul, em Rio do Campo, tem 30 anos, é produtor de arroz desde os quinze anos. Iniciou junto com seus pais e agora, sozinho, planta 9 hectares.

"As despesas para a produção e os esforços foram os mesmos que a safra anterior, mas acredito que tanto para mim, quanto para os demais produtores dessa cultura a maior dificuldade é literalmente o preço da saca. Em minha opinião, o clima de nossa região está bem desregulado o que interfere bastante no resultado final".