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'Queria essa criança', diz acusada de matar grávida em Canelinha
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- Por CAROLINE BORGES - Edição BEATRIZ CARRASCO - ND Mais
Após cometer o crime, falsa grávida e amiga da vítima roubou a recém-nascida e, coberta de sangue, dirigiu em alta velocidade para o centro da cidade
Aos 24 anos e grávida, a professora e moradora de Canelinha deixou a vida de forma cruel. Vítima de homicídio triplamente qualificado, ela morreu por volta das 16h30 do dia 27 de agosto, após uma emboscada disfarçada de chá de bebê.
A jovem foi golpeada no crânio com um tijolo. Desacordada, morreu em decorrência de uma hemorragia, sobre o chão de barro de uma cerâmica abandonada no bairro Galera, no Vale do Rio Tijucas.
Rozalba Maria Grimme, de 26 anos, confessou o crime. Em depoimento à Polícia Civil na manhã de 28 de agosto, ela afirmou que antes das duas pancadas na cabeça, pediu para a vítima fechar olhos e esperar uma surpresa que havia feito em comemoração ao nascimento da bebê que estava para chegar. O relato da mulher durou cerca dez minutos e ocorreu em uma das quatro salas da delegacia de Tijucas.
- A senhora fez isso por que queria essa criança? - perguntou o delegado Paulo Alexandre Freyesleben e Silva.
- Queria essa criança - respondeu Rozalba, assentindo com a cabeça durante o testemunho em que confessa o crime, no dia 28 de agosto.
Após atingir a grávida diversas vezes com o bloco de barro, Rozalba usou um estilete para abrir o ventre da vítima e forçar o nascimento da bebê de 36 semanas. Ela pegou os documentos da vítima, enrolou a recém-nascida em um pano e a colocou no banco de trás de seu carro. No caminho para a cidade, três homens em um carro viram a mulher coberta de sangue dirigindo em alta velocidade.
Na Estrada Geral de Canelinha, a 1,8 quilômetros de onde cometeu o homicídio e ocultou o corpo da professora com quem, segundo ela, estudou junto cerca de 6 anos antes, Rozalba parou carro e foi abordada pelo trio. Ela disse que havia acabado de ter um parto na rua e estava indo ao hospital. Ao menos durante os último oito meses, a acusada contava a mentira de que também estava grávida.
Às 17h01, uma das pessoas que viu a movimentação na rua tirou uma fotografia em comemoração ao nascimento da criança. A imagem que circulou nas redes sociais mostra a suposta mãe sentada dentro do veículo parado na beira da estrada, com a bebê no colo.
O esposo da acusada, Zulmar Schiestl, de 44 anos, foi chamado e se deslocou até o local de motocicleta. Em comboio, os três veículos seguiram para a residência do casal, localizada no centro do município. Lá, a moto foi guardada e os três homens que ajudaram no suposto parto seguiram viagem para Tijucas. Sozinhos com a bebê, Rozalba e Zulmar percorreram 1,4 quilômetros até a Fundação Hospitalar Municipal de Canelinha.
O casal foi visto entrando na unidade de saúde por volta das 17h. Câmeras de monitoramento flagraram o momento. No hospital, Rozalba entregou o celular e a carteira da vítima ao esposo. Em testemunho ao delegado um dia após o crime, Zulmar disse que não sabia que os objetos eram da vítima e "com a emoção do parto", não questionou a companheira.
No entanto, a ação é um dos indícios que leva a Polícia Civil e o Ministério Público a acreditarem que o homem sabia do crime e foi conivente.
- A senhora estava grávida recentemente ou não? - questionou o delegado durante o depoimento de Rozalba, em 28 de agosto.
- Sim, eu perdi de três meses. Um aborto espontâneo. - afirmou a acusada.
- Quando a senhora perdeu?
- Quando tinha três meses, no comecinho de janeiro. Eu tava grávida em outubro, no final de outubro.
- Tá, e a senhora perdeu essa criança em janeiro?
- Sim
- E o seu marido nessa situação?
- Ele não sabe, coitado.
Em um mandado de busca e apreensão no mesmo dia do depoimento de Rozalba, a polícia encontrou os pertences da grávida em um gaveta no quarto do casal. Zulmar está preso e também é réu no processo. Ele nega que sabia do crime e disse que acreditava na gravidez da esposa. Eles possuem união estável há cerca de seis anos.
Versão inicial foi de corte provocado por bombeiro
Ao ser atendida na unidade de saúde, Rozalba entregou a criança a um enfermeiro, que percebeu ferimentos graves no corpo da recém-nascida. Os cortes provocados pela lâmina que mutilaram a barriga da amiga grávida atingiram também a bebê, enquanto ainda estava no ventre da mãe.
A Polícia Militar foi chamada no hospital naquela noite. Em uma versão inicial, Rozalba disse que a bebê se machucou no momento em que o cordão umbilical foi cortado. "Ela justificou dizendo que foi um bombeiro que cortou quando dava a luz, mas não soube explicar os detalhes", disse o policial Leandro Pedro Rodrigues.
Como os ferimentos eram extensos, a bebê foi encaminhada ao Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, cerca de 70 quilômetros do município. A mulher foi atendida por três médicos, que constataram que Rozalba não estava em período puerperal - estado corporal que sucede o parto.
"Houve a suspeita de que ela pudesse ter roubado a criança naquele momento", disse o delegado. Com a desconfiança dos médicos, Rozalba mostrou um pedaço de placenta e disse que pertencia a ela.
Placenta foi retirada do corpo da mãe
Durante as investigações, a Polícia Civil descobriu que Rozalba conversava com várias mães e grávidas da região pelas redes sociais. Em uma conversa, o delegado Paulo Alexandre Freyesleben e Silva percebeu algo estranho:
"Ela [Rozalba] questionou essa mulher [outra grávida] sobre o que acontecia depois do parto e sobre a placenta. A mulher disse que saía logo depois do parto. Isso nos leva a crer que ela cortou parte da placenta da vítima e levou consigo na tentativa de forjar [o parto]", contou o delegado.
Rozalba foi liberada e seguiu para a casa de familiares, no interior de Canelinha. Ela passou a noite com os pais e o irmão mais velho. Em 27 de agosto e na madrugada do dia 28, por duas vezes a acusada republicou em uma rede social um pedido de ajuda para encontrar a vítima, que não havia retornado para a casa naquele dia.
Questionada pelos familiares e amigos, Rozalba disse que encontrou a grávida e a deixou em uma ponte da cidade com uma amiga da vítima chamada 'Suzana'.
"Ela inventou essa história porque as pessoas começaram a questionar ela sobre a amiga. Aí ela disse que a vítima entrou em um carro preto e não teve mais notícias, que ela precisou ir para o hospital pois estava ganhando o bebê", afirmou o delegado.
Em um áudio enviado na noite do crime para uma amiga em comum da vítima, Rozalba disse que não sabia do paradeiro da professora e que havia ganhado o bebê na rua.
Às 15h48
Na tarde do crime, às 15h48, a professora embarcou no carro de Rozalba, um Corsa branco. Uma câmera de monitoramento, no bairro Cobre, mostrou o momento em que as duas se encontram.
No caminho para a cerâmica abandonada, o pai de Rozalba encontrou a filha e a vítima na Estrada Geral. Em depoimento, o homem disse que questionou o destino da dupla e Rozalba teria respondido que estava indo para a casa dos pais. Foi a última vez que a a professora foi vista com vida.
Perto das 16h30, a acusada entrou com o carro dentro da cerâmica abandonada e o assassinato ocorreu.
- Peguei ela, convidei ela para uma festinha surpresa e levei ela na cerâmica. Botei ela de costas, dei com o tijolo na cabeça e a pau também, aí depois eu furei a barriga e peguei o bebê - disse a acusada durante o depoimento.
Oração guiou família da vítima até o local do crime
A polícia já suspeitava que Rozalba estava envolvida no desaparecimento da professora. No entanto, a crônica policial ganhou novos contornos quando, por volta das 10h de 28 de agosto, o esposo da vítima e pai da criança roubada encontrou o corpo na cerâmica abandonada.
Além do esposo, casado há menos de um ano com a professora, os pais da grávida estavam no local. Católica e frequentemente presente nas celebrações da cidade, a família contou aos policiais que um Responso - uma oração Católica de guia, dirigida a Santo Antônio - levou a família até o local do crime. Eles rezaram e a divindade teria mostrado que a vítima estava na cerâmica.
Rozalba recebeu voz de prisão no fim da manhã de 28 de agosto. Ela passou a noite daquela quinta-feira na cela da delegacia junto ao esposo, preso no mesmo dia em Florianópolis enquanto acompanhava a bebê no hospital.
Investigações
Até esta quinta-feira (10), a Polícia Civil ouviu 26 pessoas. Ao menos três outras grávidas que foram assediadas por Rozalba nos últimos meses prestaram depoimento e contaram como a acusada interagia nas redes sociais. Dois médicos, um enfermeiro, familiares e amigos dos envolvidos também foram interrogados.
A Polícia Civil indiciou o casal na lavratura do flagrante, no fim do dia 28 de agosto. Em 4 de setembro, o Ministério Público fez a denúncia e a Vara Criminal de Tijucas aceitou o pedido. Rozalba foi transferida para o presídio de Chapecó, enquanto Zulmar está preso e Tijucas.
*A reportagem do nd+ não divulga o nome da vítima e familiares para preservar a identidade da bebê, como preconiza o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Contrapontos
Zulmar Schiestl
A defesa do senhor Zulmar, através seu advogado, Dr. Ivan Roberto Martins Junior, tem a dizer que comprovará a sua inocência durante a instrução processual, bem como não medirá esforços até que venha à tona a verdade, qual seja, o fato de que o mesmo não teve nenhum tipo de participação nos crimes dos quais está sendo injustamente acusado.
Rozalba Maria Grime
A acusada solicitou um novo advogado pela Defensoria Pública de Santa Catarina. No andamento do processo, é o juiz que deve nomear a defesa. O Tribunal de Justiça ainda não repassou o nome do novo defensor.
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