Cão de resgate Iron - Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

Seis filhotinhos cor de chocolate estirados em uma caixa de papelão com a preocupação de dormir e mamar. Os bombeiros de Xanxerê, no Oeste catarinense, não tiveram dó da preguiça nos primeiros dias. Quem quisesse chegar ao peito da mamãe Dana deveria ultrapassar "montanhas" de papelão. Era o início do treinamento para transformar os pequenos labradores em cães de resgate.

Treinamento 

A preparação continuou com exercícios que não passam de brincadeiras para os labradores. Memorizar e buscar essências no quintal para refinar o olfato, aprender a latir para a ração para conseguir o que deseja, transpor um circuito com túneis e obstáculos no pátio de casa para se acostumar a imprevistos.

Não há garantia de que os cães conquistem a certificação para trabalhar em resgates, mas alguns sinais de que têm as habilidades necessárias começam a aparecer com dois meses. O desempenho de cada um vai para o caderno dos bombeiros.

O soldado Josclei Tracz escolheu o filhote do laço verde no pescoço e deu a ele o nome de Iron - forte como o ferro, significado da palavra em inglês, e uma homenagem à banda de rock Iron Maiden.


Cão Iron quando filhote - Foto: Reprodução/NSC TV

Moradia com tutores

Os cães de busca de Xanxerê moram com os bombeiros. Josclei e Iron continuaram o treinamento em casa. Depois na pista de escombros da corporação, que imita uma situação real de resgate, eles partiram para ambientes o mais desafiadores possível, como matas, lama e asfalto, treinando de dia e à noite, no sol e na chuva.

Quando o Iron completou um ano e meio, a dupla tentou a primeira certificação. O nervosismo falou mais alto e não deu certo. Mas ainda havia outras duas chances até o cão ser descartado. Cachorro e dono têm três certificações da Liga Nacional dos Bombeiros Militares e uma internacional. Os bombeiros de Xanxerê são referência em treinamento de cães de resgate e já prepararam 40 cães que atuam no Brasil e na América Latina.

O cão precisa buscar alguém que ele nunca viu, em um local onde ele nunca esteve e sentir prazer com isso 

- tenente-coronel Walter Parizotto, responsável pelo desenvolvimento do treinamento no Oeste

A corporação encarou seu maior desafio há poucos meses: ajudaram a resgatar as vítimas soterradas em Brumadinho, onde os cães de todo país foram responsáveis por 80% dos corpos encontrados. Durante a missão, um espinho perfurou a pata de Iron. Ele passou por uma cirurgia lá mesmo e antecipou a volta pra casa.

Em Xanxerê, o herói Iron logo se recuperou e virou um pai de família. A labradora Malu, que acumula o maior número de certificações dos bombeiros, acaba de dar à luz. Léia e Dante já começaram uma história linda como a do pai com outros bombeiros de Santa Catarina.

Por Gabriela Machado, NSC TV