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Por: Oeste Mais


Depois que começou a pandemia do novo coronavírus no mundo inteiro, a população passou a seguir as normas estabelecidas pelos governos para evitar a propagação da doença. Hoje, no mundo, quase 15 mil pessoas já morreram vítimas da Covid-19, sendo que no Brasil os números alcançaram 34 nesta segunda-feira, dia 23. No país, 1.891 casos já foram confirmados.

Com isso, os moradores já não saem mais de casa para trabalhar, se exercitar e nem para estudar. Através do decreto assinado pelo governo, academias, escolas, shoppings e restaurantes não devem abrir as portas pelo período de mais sete dias. Essas foram as medidas adotadas para evitar aglomerações que possam fazem os números subirem.

Apesar de boa parte da população estar isolada em casa nesse período, os caminhoneiros permanecem nas estradas, isso porque precisam manter abastecidos os supermercados e outros estabelecimentos necessários que continuam abertos.

O caminhoneiro de Ponte Serrada, Telmo Luiz Tussi, de 46 anos, que trabalha com transporte internacional há 18 anos, relatou ao Oeste Mais as dificuldades que vem enfrentando devido à Covid-19 e as restrições estabelecidas.

Ele conta que, em todos os 31 anos como motorista, nunca tinha passado por algo tão grave, apesar de já ter presenciado bastante coisa ruim na profissão. Para ele, a situação dos caminhoneiros vem ficando cada vez mais difícil.

"Essa pandemia está bem complicada, porque a gente está sendo culpado, como se fossemos nós que trouxemos a contaminação. Não são em todos os lugares, mas em 30% da população argentina e chilena. Eles estão evitando a gente", relata.

Telmo contou que saiu de casa para viajar há pouco mais de 15 dias e que estava tudo tranquilo até uns dias atrás. Porém, quando chegou no Chile, na cidade de Los Andes, foi barrado e precisou passar por testes.

"Precisamos fazer uma declaração jurada que a gente não tinha nada, que tava livre de qualquer doença. Eles distribuíram máscaras, álcool em gel e passaram a evitar contato com a gente".

Segundo Telmo, os caminhoneiros não estão recebendo apoio da população nesse momento de crise. Ele pede para que todos passem a dar mais valor aos motoristas e sejam mais solidários possíveis, pois são eles que percorrem estradas dia e noite para preencher as prateleiras dos supermercados com alimentos, produtos de higiene, limpeza, além de material hospitalar.

"Eu tô arriscando a minha saúde, deixando de lado a minha família para ajudar vocês e podendo contrair uma doença, e eu gostaria que a população pensasse um pouco e ajudasse nós", diz. "Poderíamos abandonar tudo, mas não podemos parar, porque vocês precisam", desabafa.




Banheiros de portas fechadas

Nos postos de combustível, que geralmente servem para os motoristas parem descansar, comer e tomar banho, a entrada dos caminhoneiros passou a ser fiscalizada.

Segundo o ponteserradense, tanto para ele quando para os colegas de profissão, passou a ser humilhante ver que em diversos lugares a entrada era barrada até que todas as pessoas no estabelecimento deixassem o local. Só depois que estivesse completamente vazio, a entrada deles era permitida.

"Na Argentina, o pessoal não tá deixando a gente parar nem nos postos e é humilhante você não poder mais parar, ou ser convidado a se retirar. Muitos colegas meus estavam em um local e chamaram a polícia para que os motoristas brasileiros saíssem", relata Telmo, que diz não poder entrar nem em supermercado.

Além da entrada no estabelecimento, os banheiros passaram a ter as portas fechadas para evitar que os motoristas não utilizassem os sanitários, segundo Telmo. "Não são em todos os lugares, mas são alguns, onde a gente está se sentindo humilhado, porque o transporte não parou no Brasil, nem na Argentina, porque os caminhoneiros têm que abastecer a população. Enquanto a população está em casa, a gente tá viajando pra abastecer", enfatiza.

O caminhoneiro relata que, apesar de muitas restrições que estão tendo no caminho que percorrem nos tempos de pandemia, alguns pedágios na Argentina não estão cobrando a passagem dos motoristas, ajudando bastante quem tem que ir e vir para manter os estabelecimentos abastecidos.

"A gente teve o apoio de certas estações de pedágio dentro da Argentina, nas rutas nacionais que foram direcionadas por onde a gente tinha que passar, porque nas províncias onde faz ligações de um lado por outro não deixam passar, eles trancaram", afirma.


Um pedido importante

"Não queremos ser taxados e julgados como heróis salvadores de uma pátria, só queremos ajudar e queremos respeito para pessoas como nós. A gente quer que todo mundo tenha saúde, que o Brasil e o mundo voltem a funcionar da melhor maneira possível, com trabalhado, alegria, a toda a população. Mas queria dizer também para que toda a minha família, todas as pessoas que eu quero bem, se previnam, não saiam de suas casas e fiquem se cuidando", pede Telmo, que é casado e pai de duas meninas.