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Um sujeito especial

Acabo de recolher mais uma história para os meus arquivos sobre pessoas longevas. Na verdade, o arquivo foi criado para guardar histórias de pessoas que chegaram ou ultrapassaram os 100 anos. O caso de agora não chega a tanto, o cidadão tem 89 anos, mas a vida que ele levou até agora é que me traz a esta conversa com você.
Antes de dizer sobre os segredos desse homem, um japonês de nome Yukio, professor e médico emérito de Geriatria na PUC do Rio Grande do Sul. Yukio acaba de se aposentar, veja bem, ele tem 89 anos... Começou a sentir a idade para estar em sala de aula todos os dias, mas ele tem 89 anos. Conheço multidões de vadios que contam as horas para se aposentar bem antes dos 60 anos, vadios... Enquanto isso, o professor Yukio diz aos amigos que na próxima encarnação quer outra vez ser professor, afinal, ser professor, diz ele, é ter um hobby, é uma diversão, um prazer, uma realização. Bah, esse "É" professor.
Sobre segredos de sua longevidade saudável, nada de fora do natural. Ele diz que faz caminhadas todos os dias, que exercitar-se é indispensável à saúde. Outra dica é alimentar-se moderadamente, de modo equilibrado; outro conselho é dormir de sete a oito horas por dia, indispensável, diz ele. E a quarta e última dica é: ter espiritualidade. Aqui é que o bicho pega. O que ele quis dizer, o que é espiritualidade? Ele não disse, mas eu digo: - Não é religião, isso não é. A religião costuma deixar as pessoas neuróticas e más, ainda que disfarçadas de boazinhas. Não sei o que ele de quis dizer com espiritualidade, mas imagino.
Espiritualidade para mim é um sentir-se bem a pessoa, estar numa freqüência de energias positivas, não se deixar consumir por materialidades inúteis, não se servir de pessoas para, em fingindo ajudá-las de modo caritativo, obter considerações sociais. Espiritualidade, enfim, é ter espírito, sentir-se viva a pessoa. E quem se sente assim não faz mal a ninguém, curte-se. É para muito pouca gente. A maioria anda com o falso manto da religião mas não se sente bem e não consegue naturalmente ajudar a quem quer que seja senão por uma compulsão a tentar enganar ao Deus em que dizem crer. A propósito, não existem ateus nas penitenciárias...
Disciplina
Outra característica especial do Dr. Yukio, como professor em sala de aula de Geriatria na Medicina da PUC/RS, é interromper a aula toda vez que um aluno vai ao banheiro. O aluno pede licença, o professor a concede mas só retoma a aula quando o aluno retorna do banheiro. Imagine o clima. Mas isso se chama disciplina. Ah, outra coisa: ele não permite que aluno peça caneta emprestada. É como um cirurgião entrar na sala cirúrgica sem bisturi... Outra vez, aula de disciplina. Esse professor é o cara, claro, é japonês... Se fosse brasileiro bem provável que fosse outro idiota bonzinho.
Roupas
O professor Yuki faz suas caminhadas em Porto Alegre vestindo terno e gravata. Mais uma vez a disciplina de um japonês. Entre nós, velhos entram em aviões de bermuda e tênis, quando não de chinelos ou sandálias. E muitas mulheres saem de casa para a escola ou trabalho quase nuas... Os pais ou maridos nada veem. Credo, que nojo!
Falta dizer
Se dependesse de mim, o professor Yukio seria o nosso Ministro da Educação, com certeza ele não é da esquerda pútrida... E com ele teríamos responsabilidade e disciplina em sala de aula. Chega de professores incompetentes e abobados regidos pela Pedagogia do Amor. Frouxos.

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Luis Carlos Prates