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Ex-prefeito de Blumenau surpreende cúpula do PSDB com desfiliação e trata de novo partido
Em busca de rumo e identidade desde que as urnas de outubro fizeram o partido encolher em nível nacional e estadual, o PSDB vai ter que encarar sua reconstrução sem um de seus principais expoentes em Santa Catarina: ex-prefeito de Blumenau e candidato a vice-governador ano passado, Napoleão Bernardes está deixando o partido. Em carta apresentada na noite deste domingo (leia a íntegra abaixo) a lideranças tucanas municipais, ele anunciou que pretende ficar um tempo sem partido para "atualizar-me, reciclar-me e oxigenar-me nas questões pertinentes à política".
Quem conhece Napoleão Bernardes sabe que não foi uma decisão simples. Tinha 16 anos de idade quando procurou os tucanos em busca de filiação. Logo tornou-se uma das grandes promessas do partido. Menos de 20 anos depois, em 2016, quando foi reeleito prefeito de Blumenau, tornou-se uma das principais apostas do partido para as eleições estaduais. Nessa lógica, ousou renunciar à prefeitura no meio do segundo mandato e tentar uma candidatura ao Senado - que muitos acreditavam que deveria ao governo.
Emparedado entre a vontade indômita do ex-senador Paulo Bauer de ser candidato a governador e a pressão de setores do partido por uma aliança que facilitasse eleição de deputados, Napoleão acabou escondido na vaga de vice de Mauro Mariani (MDB). Foi coadjuvante de um fiasco: o terceiro lugar da chapa emedebista e o quinto lugar de Bauer na disputa pelo Senado.
Na época, um tucano influente dizia que "se o PSDB tem algum apreço pelo Napoleão, deveria dar a ele a presidência do partido". O blumenauense passou a ser muito citado para o cargo, ao mesmo tempo em que via as diversas correntes do tucanato catarinense armarem-se para outras direções. Semana passada, anunciou que estava fora da briga - era a senha do que foi concretizado ontem.
Napoleão garante que não pretende se filiar a outro partido no momento, mas também diz que não largará a política. Acredita que um período sabático em sua vida partidária será importante para um reposicionamento político. Opções não faltam. A maior dificuldade do agora ex-tucano será manter alguma visibilidade sem cargo e sem partido, mas ele sempre soube se comunicar. Será seu desafio.
Maior ainda é o desafio do PSDB-SC. Sem Napoleão, o figurino de renovação cabe apenas na deputada federal Geovânia de Sá - em processo de desvinculação do prefeito criciumense Clésio Salvaro. A velha guarda do partido perdeu espaço na urna, mas tem peso interno. O ex-deputado federal Marco Tebaldi quer a presidência, o suplente de senador Beto Martins surge como opção de conciliação. Seja quem for o novo presidente, vai precisar saber ler o que significa a perda de uma liderança do peso de Napoleão.
A "P"olítica, exercida como deve ser, com ética, decência e aguçado senso de interesse público, é o grande instrumento da sociedade em favor da pavimentação do caminho para o alcance dos seus mais altos ideais e elevados propósitos. Política, para mim, é vocação, chamado e causa de vida, algo que exerço me envolvendo de alma e coração.
Inspirado por este ideal e movido pela paixão à causa da igualdade de oportunidades entre as pessoas, filiei-me ao PSDB em 1998. Aos 16 anos, tão logo atingida a idade legal, alistei-me eleitoralmente para, com o título de eleitor em mãos, ter a condição para a filiação partidária.
Caminhei da escola, vestido com o uniforme do colégio, para a Câmara Municipal de Blumenau com o objetivo de descobrir onde se localizava a sede do partido na cidade. Sem padrinho, guiado por meus sonhos e inspirado por meus ideais, literalmente bati à porta do PSDB. Atendido pelo estagiário, requeri a minha filiação, e ele - o estagiário - foi quem abonou a minha ficha de ingresso.
"As coisas não valem pelo tempo que duram, mas pela intensidade como são vividas" (Fernando Pessoa)
Entendi, à época, que o caminho mais efetivo para concretizar aquelas inspirações, sonhos e ideais seria através da construção partidária e eleitoral. Dediquei-me com intensidade e afinco a esta missão. Como num sacerdócio, tive uma juventude e início de vida adulta com muitas renúncias, dada a minha obstinada paixão por este ideal de vida.
Lembro com nostalgia dos domingos de sol, em que todos os meus amigos estavam no clube ou na praia, e eu viajando nos ônibus "bate-volta" para participar da formação política em Florianópolis. Relembro o frio na barriga, o suor e o tremor nas mãos - que apesar de muitos não acreditarem, perduram até hoje - antes das reuniões, convenções e atos partidários.
Recordo, sem arrependimento, de investir literalmente todo o pouco que possuía nas primeiras eleições que disputei: a primeira, aos 17 anos; e a segunda, aos 21. Em ambas, saí literalmente a pé. Embora não tenha conquistado o mandato nessas oportunidades, sempre agradeço à Deus pelos subsídios decorrentes dessas derrotas, que me trouxeram amadurecimento e inigualável aprendizado.
Alegro-me com a façanha, fruto de uma ousadia, de ter sido o candidato a deputado federal mais votado em Blumenau nas eleições de 2010, consagrando-me suplente aos 28 anos.
Revivo, com emoção e orgulho, as vitórias eleitorais, todas extraordinárias vitórias políticas: em 2008, aos 26 anos, a maior votação da história de Blumenau para um vereador de primeiro mandato; a conquista da Prefeitura em 2012, aos 30 anos, quando me tornei o prefeito mais jovem e mais votado da história da cidade; e a reeleição em 2016, aos 34 anos, quando tive a maior votação proporcional do segundo turno em Santa Catarina, enfrentando e vencendo as adversidades decorrentes da maior crise econômica e política da história do Brasil.
Como deve ser a escalada da escada da vida, construí o meu caminho partidário e eleitoral lastreado no esforço do trabalho, passo a passo. Emocionado, lembro da aclamação das bases e lideranças partidárias, na maior e mais retumbante das convenções, para representar, como candidato único, o PSDB na disputa de uma das vagas ao Senado. Vivi, naquele momento, o ápice do coroamento da vida partidária ao ser escalado para a missão - sonho de uma vida. Sou muito grato a essas bases e lideranças.
Sabedor de minhas responsabilidades partidárias, no entanto, assumi com hombridade e galhardia a convocação para a missão de representar o PSDB na honrosa candidatura a vice-governador do Estado, a qual sou grato pela excepcional acolhida da coligação, pelo aprendizado, pela infinidade de amigos que cultivei em todas as cidades, pelo respeito que conquistei de líderes de todos os partidos, independente de, à época, estarem ou não coligados, e pelas pessoas especiais que caminharam ao meu lado por toda Santa Catarina.
Com apenas 35 anos de idade, pude ter a magnífica experiência de percorrer todas as regiões do Estado, conhecendo as particularidades e potencialidades de cada uma delas. Apesar da derrota eleitoral, considero que tive uma grande vitória política por ter me aproximado de tantas pessoas de bem e comprometidas em atender os anseios dos catarinenses e lutar pelo desenvolvimento de Santa Catarina.
"Mesmo que já tenha feito uma longa caminhada, sempre haverá mais um caminho a percorrer" (Santo Agostinho)
Vividas duas décadas de intensa dedicação à política através da construção partidária e do exercício de dez anos de mandatos eletivos legislativos e executivos consecutivos, é chegado o tempo de um novo momento político e de vida. Inspirado pela mesma paixão à causa da "P"olítica e movido pelo mesmo idealismo que norteou e guiou os passos na construção da trajetória concreta de minha vocação, entendo ser o momento da consolidação de novos degraus na minha escada de vida.
No campo acadêmico, caminho para o doutorado em direito e teoria da democracia e do Estado, projeto este adiado em decorrência da minha eleição para prefeito em 2012. Sigo, com força e vigor, na nobre e gratificante atividade docente, seja como professor titular do curso de Direito da Furb, seja em cursos de especialização nas áreas de gestão pública, princípios constitucionais e direito penal.
Na seara profissional, retornarei à advocacia, atividade que interrompi, quando da eleição para vereador, para exercer com a intensidade necessária o mandato para qual fui eleito pela população. Em paralelo, empreenderei na área de tecnologia, por acreditar no empreendedorismo e no trabalho como pilares para o progresso da sociedade.
Em termos políticos, após muita reflexão, e não sem pesar - dada a multiplicidade de amizades amealhadas, entendi que este é o momento para vivenciar um período sem filiação partidária. Política, para mim, é vocação, propósito, verdadeiro chamado e causa de vida. Meu coração e minha alma, é claro, não me permitiriam deixar de seguir na caminhada política. Até por isso, vislumbro como importante e salutar este período sabático em termos de filiação, até para, com isenção partidária, atualizar-me, reciclar-me e oxigenar-me nas questões pertinentes à política. Isso se faz necessário permanentemente, pois os novos tempos exigem líderes com novas visões para bem exercer a boa e necessária política.
"A esperança não desilude, está sempre ali: silenciosa, humilde, mas forte" (Papa Francisco)
De minha parte, carrego comigo boas memórias e o desejo permanente de diálogo com os muitos amigos que fiz no PSDB, rogando por compreensão diante desta necessária decisão. Da mesma forma, agradeço, de coração, a todos os que, ao longo da jornada, têm me apoiado, incentivado e acreditado em mim. Continuem contando comigo! Não tenho dúvida de que a vida nos proporcionará ainda muitas caminhadas e vitórias lado a lado.
Napoleão Bernardes
A decisão do ex-prefeito de Blumenau, Napoleão Bernardes, de cancelar filiação no PSDB surpreendeu todos os principais líderes do partido, de acordo com as primeiras informações obtidas na noite deste domingo. Ao que se informa ele não ouviu nem o ex-senador Dalirio Beber, maior nome dos tucanos no Vale do Itajaí e um de seus principais interlocutores.
O presidente estadual do PSDB, deputado Marcos Vieira, também nada sabia sobre a decisão. Em várias conversas com Bernardes foi informado neste ano apenas da intenção de se dedicar a vida acadêmica e profissional, sem disputar a presidência do Diretório Estadual na convenção marcada para maio.
Ouvido na semana passada, o candidato derrotado a vice- governador na chapa de Mauro Mariani, do MDB, não deu qualquer sinal que deixaria o partido. Fez tudo na surdina.
Várias vezes indagado sobre os projetos políticos respondeu que iria continuar na Furb e fazer pós-graduação em Direito Penal na Univali.
- Recebi com grande surpresa. Te asseguro que na cúpula do PSDB ninguém sabia de nada - revelou o ex-secretário Beto Martins, neste momento o nome mais cotado para suceder o deputado Marcos Vieira, que já decidiu no ano passado que não disputará a reeleição.
Beto Martins está afinado com Marcos Vieira, que o está apoiando, e vem defendendo escolha por consenso para manter a unidade e partir para um amplo projeto de renovação em todo o Estado.
Nos bastidores, há informações de que Napoleão Bernardes cancelou, inesperadamente, a filiação no PSDB, para integrar um novo grupo que pretende movimentar a politica estadual em um outro partido para participar do pleito municipal de 2020 em Santa Catarina.
A decisão, da forma como aconteceu, está sendo interpretada como traição aos tucanos de Santa Catarina, que apoiaram todos seus projetos e se empenharam em 2018 em sua candidatura a vice-governador.
O nome do partido e detalhes dos principais líderes deverão ser conhecidos nos proximos dias.
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