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Colombo quebra o silêncio e dá entrevista sobre delações da Odebrecht


O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), rompeu o silêncio quase uma semana após a divulgação do conteúdo de delações de ex-executivos da Odebrecht ao Ministério Público Federal. Nos depoimentos, os delatores afirmam que o governador teria pedido dinheiro para caixa 2 de campanha. Outros políticos de Santa Catarina também foram citados em vídeos das delações da Operação Lava Jato.




Nesta terça-feira (18), ele concedeu entrevista a veículos de imprensa em Brasília, da qual participou a repórter da RBS TV Carolina Bahia. Até então, Colombo e integrantes de seu partido só haviam se manifestado por meio de nota do governo estadual.



"Em nenhum momento pedimos ajuda de caixa 2", disse o governador na entrevista desta terça.



"Isto não aconteceu. O delator não está falando a verdade. Aliás, o outro delator disse que não viu isso acontecer. Isso foi uma iniciativa equivocada e mentirosa do delator. Nós não pedimos dinheiro de caixa 2".


Colombo também negou que alguém tivesse pedido dinheiro em seu nome. "Ninguém pediu, esses recursos não foram pedidos. Nós não íamos jamais pedir isso. A gente conhece uma pessoa e dez minutos depois no aeroporto vai pedir dinheiro? Quem faria isso? Eu jamais faria. Aliás, o outro delator disse que não viu pedir. Então é realmente uma afirmação que não é correta", disse, referindo-se à afirmação dos delatores de que Colombo pediu R$ 2 milhões em contribuição de campanha não contabilizada, em um encontro na sala VIP do Aeroporto de Congonhas, em 2010.





Reuniões com a Odebrecht





O governador foi questionado especificamente se teve reuniões com a Odebrecht para negociar recursos de campanha. "Não, não aconteceu isso. O governo do Estado recebeu ao longo desses seis anos e quatro meses centenas de empresas do Brasil, do exterior, todas foram bem recebidas e sempre a gente estava acompanhado de mais gente do governo para tratar de assuntos que fossem importante, e nós tivemos sucesso em muitos deles. A Odebrecht era uma das maiores empresas do Brasil e o fato de recebê-las é ato absolutamente normal e praticado pelo governo como todas as outras, inclusive do próprio setor".



Ele foi perguntado se suas campanhas tiveram recursos de caixa 2. ?Esses números são absurdos, isso é totalmente fora da realidade e como eu disse, a legislação, até 2014, ela permitia e era uma prática comum para manter o processo eleitoral que todos os candidatos pedissem ajuda de campanha, e isso era feito, e então declarado na Justiça Eleitoral. Então não há esses números e não foi feito esse pedido.?




Casan





O governador também falou sobre a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan). "O mais importante de tudo é que o governo do estado não vendeu nenhuma ação da Casan, não tem nenhum contrato com a Odebrecht, não realizou nenhum pagamento e a Casan continua exatamente pública como ela era", disse.



"Então, não há nenhuma negociação com a Odebrecht que tenha prosperado", continuou o governador. "E talvez isso seja uma decepção para eles e foi a melhor escolha para o governo. E agora está se mostrando a melhor solução política para a gente também, porque fica bem claro e se separa joio do trigo. A Odebrecht não realizou nenhum negócio com o governo, não comprou nenhuma ação, e o governo também não vendeu nenhuma ação. As relações se encerram aí", afirmou.




Análise do STJ sobre abertura de inquérito





Com base nos documentos investigados, caberá ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidir pela abertura ou não de inquérito contra o governador. ?Se houver abertura de inquérito, não há nenhuma desonra nisso", disse Colombo. "Quer dizer, é a melhor forma que tem, se houver, de a gente poder esclarecer os fatos, levar toda a contraprova, levar todos os nossos argumentos. Eu não sei como isso vai tramitar, mas eu estou inteiro à disposição para esclarecer todos os fatos, como é do meu dever, e farei isso?.



O governador também foi questionado sobre a declaração do empresário Marcelo Odebrecht, de que nenhuma campanha funciona até hoje sem caixa 2, e novamente perguntado se teve dinheiro de caixa 2 em sua campanha em algum momento.



?Olha, sempre que houve abordagem de pedir recursos, que é natural, até 2014 a lei era assim, todo mundo praticava isso. Jamais a gente iria pedir dinheiro em caixa 2 porque isso cria todo um transtorno", disse Colombo.





"Quer dizer, é muito difícil isso", disse o governador. "Então, quando você pedir recursos para a campanha, você pedia os recursos oficiais. E era assim que era o procedimento padrão. Evidentemente que cada empresa estabelecia o seu interesse, a sua conveniência, e aí vai ter que ser investigado e vai ter que ser olhado lá. E nós estamos prontos com uma transparência para prestar contas disso?.



O governador afirmou que ainda não teve acesso ao processo. "Mas assim que nós tivermos o acesso, porque a Justiça é (...) É muita coisa, nosso advogado está ali nesse momento, mas não conseguiu, nós vamos poder esclarecer todos esses fatos, ponto por ponto. Podem ter certeza, nós vamos continuar o nosso trabalho com muita fé, com muita coragem e com muito bom resultado para Santa Catarina continuar se desenvolvendo, enfrentando a crise com sucesso e vencendo essas dificuldades".



Colombo classificou o momento como "difícil". "Um momento de dor, de sofrimento, mas a gente precisa ter uma força mais forte do que a gente mesmo tem, aumentar ainda mais a nossa fé para continuar prestando serviço. Até porque a vida dos trabalhadores continua e eles precisam que a gente cumpra o nosso dever perante a gestão pública", afirmou.



"Nós vamos continuar trabalhando até o último dia para realizar o melhor trabalho, e com a mesma intensidade e com a mesma fé nós vamos poder esclarecer todos esses pontos, um por um, para que ninguém tenha nenhuma dúvida. Esse é meu dever e minha maior vontade, nós vamos conseguir fazer isso, pode acreditar? , disse o governador.




Delação do ex-diretor da Odebrecht Ambiental, Fernando Cunha Reis





O ex-diretor da Odebrecht Ambiental Fernando Cunha Reis afirmou que foi apresentado a Raimundo Colombo, na época senador, em um jantar no apartamento de Ênio Branco, atual diretor da Celesc, em 2010 (veja abaixo vídeo em que Reis cita Colombo).


Disse que, no mesmo ano, Colombo pediu R$ 2 milhões em contribuição de campanha não contabilizada, em um encontro na sala VIP do Aeroporto de Congonhas



Nessa ocasião, falou do interesse em fomentar a participação do setor privado na Celesc, nos portos e no setor de saneamento.



O delator confirmou que Colombo recebeu o codinome Ovo na operacionalização do pagamento por parte da Odebrecht.



Disse que, em agosto de 2012, Colombo convocou o então diretor da Odebrecht para uma reunião no gabinete do Centro Administrativo do Governo do Estado, na qual expôs a necessidade de eleger o prefeito de Florianópolis Cesar Souza Junior (PSD). Para tanto, o próprio governador pediu R$ 3 milhões em contribuição não contabilizada.



Conforma o depoimento, em dezembro de 2013, o governador convidou o ex-executivo para um almoço privado no Palácio da Agronômica, explicou que não tinha conseguido viabilizar as privatizações, mas disse que faria no segundo mandato e pediu R$ 5 milhões, apresentando José Carlos Oneda como o responsável pela arrecadação da campanha. Oneda é o atual diretor de finanças e relações com Investidores da Celesc. Ele não foi localizado pela RBS TV.



Em agosto de 2014, o ex-diretor da Odebrecht disse que encontrou o atual Secretário de Estado da Fazenda, Antonio Marcos Gavazzoni, e que pediu R$ 2 milhões em contribuições não contabilizadas para a reta final da campanha. O encontro foi em um restaurante da capital.



No depoimento ao Ministério Público Federal, Fernando Cunha Reis disse que perguntou a Gavazzoni se o governador sabia do pedido, e ele confirmou que sim.



Segundo o delator, o responsável por receber o valor foi André Agostini Moreno, indicado como primo do governador.




Posição dos citados





Ênio Branco disse à RBS TV que "as informações divulgadas estão sendo avaliadas para entender o contexto e, oportunamente, vai se manifestar".



A assessoria do atual secretário de Estado de Assuntos Estratégicos, Cesar Souza Junior, disse que ele jamais manteve qualquer relacionamento com a empresa citada.



José Carlos Oneda não foi localizado.



O atual Secretário de Estado da Fazenda, Antonio Marcos Gavazzoni, também foi procurado, mas não se manifestou pessoalmente sobre a citação. Informou que sua posição é a que foi enviada pelo governo do estado.




Delação do ex-diretor da divisão sul da Odebrecht, Paulo Roberto Welzel





Em sua delação, o ex-diretor da divisão sul da Odebrecht, Paulo Roberto Welzel, confirmou as denúncias do superior hierárquico Fernando Cunha Reis. Ele também fala sobre a reunião na sala VIP do Aeroporto de Congonhas, onde Raimundo Colombo teria pedido R$ 2 milhões.



Como atuava diretamente na região Sul, ressaltou ter participado de reuniões na SC parcerias com o objetivo de tratar da venda de ativos da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan).



Em uma dessas reuniões, tomou conhecimento do encaminhamento de um projeto de lei, encaminhado pelo governo, para mudar a constituição estadual e facilitar a privatização.



Disse que durante essas negociações, em 2012, conheceu o senador Dalírio Beber (PSDB), que então era presidente da Casan.



Paulo Welzel relata ainda que em 2014 recebeu do secretário da Fazenda, Antonio Gavazzoni, o pedido de contribuição para a campanha de dois candidatos a deputado estadual.



Segundo o delator, eram R$ 500 mil para Gelson Merísio (PSD) e outros R$ 500 mil para José Nei Ascari (PSD). (veja abaixo vídeos da delação de Welzel que mencionam o governador).



O que dizem os citados





Em nota, os deputados estaduais Gelson Merisio e José Nei Ascari informam que não existem sobre eles quaisquer procedimentos investigativos instaurados, em qualquer esfera do poder judiciário, relativo aos fatos da Lava Jato. Na próxima semana, devem apresentar todos os documentos oficiais que comprovam a inexistência de qualquer procedimento investigativo.



Beber afirmou não ter tido acesso ao processo. "Recebo com surpresa a inserção do meu nome no rol dos investigados. Não tive, até o presente momento, qualquer acesso ao processo para conhecer o conteúdo do que me é atribuído. Rechaço com veemência toda e qualquer denúncia de prática de ilícitos. Estou indignado, mas absolutamente tranquilo, pois minha consciência em nada me acusa", declarou.



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