
Luto
Quem visita a propriedade da família Bossy na comunidade Entre Rios II, em Santa Terezinha, pode contemplar um belo lugar, cheio de detalhes capricho e organização. São muitas as plantas, árvores, animais e flores que dão beleza e vida à propriedade, mas que também foram cenário de uma super história de superação.
Paulo Bossy tem 72 anos de idade e sempre trabalhou na agricultura. Reside no mesmo local desde que nasceu, na propriedade que pertencia aos pais Alexandre Bossy e Maria Demétrio Bossy. Junto da esposa Eugênia Hlenka Bossy e da filha Rita, Paulo é muito trabalhador e zeloso.
A equipe do JATV esteve na comunidade Entre Rios II na quarta-feira, dia 22 de julho. Além de se deparar com a bela propriedade, se surpreendeu com uma linda história de força e superação. Acolhedores e simpáticos, Paulo e Eugênia contaram um pouco dessa história, que tem como protagonista a filha Rita. "Na adolescência Rita foi diagnosticada com um tumor abaixo do cérebro, na garganta", conta Eugênia.
Diante do diagnóstico, a família passou a viver momentos dificílimos. "Rita foi levada para Curitiba para tratamento e ali permaneci junto com ela por cinco meses", diz a mãe. Foram realizadas cirurgias através da boca para retirada do tumor e a jovem teve um processo de recuperação muito delicado.
Eugênia tem 66 anos, também é natural de Santa Terezinha, da comunidade Craveiro. Quando Paulo e Eugênia nasceram Santa Terezinha pertencia ao município de Itaiópolis. Eles são casados há 48 anos. São pais de cinco filhos: Elisete, Eliseu, Rita e das caçulas Luciana e Lucélia que são gêmeas.
Quando o câncer foi diagnosticado, Rita estava com 15 anos, mas os indícios da doença, a adolescente já sentia há algum tempo "Aos 14 anos, comecei a sentir dificuldades para falar e também sentia dores no pescoço. Passei a frequentar os médicos até que uma neurologista me internou no Hospital Regional de Rio do Sul onde o diagnóstico foi positivo para o câncer. Diante do meu quadro clínico me encaminharam para o Hospital das Clínicas em Curitiba", explica Rita.
O caso da Terezinhense era muito delicado. Os médicos estudaram cuidadosamente a situação antes de realizar as cirurgias que foram cinco no total, qualquer erro poderia deixar sequelas gravíssimas, como: não andar ou falar. "No começo tive que colocar válvula de irrigação, pois já tinha perdido os movimentos das mãos e já estava perdendo dos pés também. A água do cérebro não passava para a minha coluna porque o tumor trancava", revela Rita. Além do câncer se localizar em uma região delicada, que é o cérebro também estava entre os neurônios da garota. Duas vértebras do pescoço foram retiradas e substituídas por platinas "Pois o tumor já estava entre as vértebras", menciona o pai.
A jornada da família foi longa até o diagnóstico médico que Rita estava praticamente curada do câncer "Já com cerca de 20 anos que os médicos disseram que ela estava praticamente curada", conta Paulo. Rita fez 84 aplicações de radioterapia, eram duas por dia. Ficou um ano sem falar, cerca de seis meses sem andar e um ano e oito meses sem comer, alimentava-se apenas por sonda. E ainda, usou traqueostomia dois anos e três meses para poder respirar.
Rita Bossy venceu as maiores dificuldades. Venceu a morte, pois tinha sério risco de perder a vida. O tumor foi retirado e os movimentos do corpo voltaram com ajuda de fisioterapias. No entanto, a jovem teve que fazer implante de dentes, pois perdeu todos. Também perdeu quase que totalmente a audição, ouve apenas com o auxílio do aparelho que usa e ainda perdeu uma parte significativa da voz. Duas vértebras foram retiradas devido ao câncer estar instalado entre os ossos do pescoço. Rita usa uma válvula que vai da cabeça até o peito.
Antes da doença, Rita era uma menina normal, saudável. Foi a cirurgia que salvou a sua vida. "Eu perdi os movimentos, já não andava, não falava, respirava só pela traqueostomia. Mas me comunicava com os médicos de alguma forma, principalmente escrevendo e eles me contavam tudo o que estava acontecendo comigo".
Rita fala do período mais doloroso
"Para mim, o período mais doloroso foi o tempo que fiquei sem andar, sem poder viver na verdade. Problema todo mundo tem, e mesmo com problema a gente dá um jeito. Agora quando você se sente numa cama totalmente incapaz, sem poder sentar ou se virar sozinha, é muito difícil. Eu não podia comer. Nem tomar água, e sentia uma vontade de poder tomar uma água. Algo, que talvez é tão simples, mas eu não podia fazer e tinha tanta vontade de tomar uma água que passasse pela minha garganta, e não podia", expressa Rita. Como mencionado antes, no período da doença, Rita se alimentava apenas por sonda.
Dona Eugênia ouvia dois médicos que a recuperação da filha era só por milagre
"O período mais difícil foi quando eu estava no hospital com ela acompanhando tudo. Ver a filha naquela situação de sofrimento, não falava, nem andava e com a vida por um fio é muito triste. Eu perguntava para os médicos se ela iria se recuperar, eles respondiam: 'A senhora acredita em milagre? Se ela se recuperar é só por um milagre porque essa menina está pendurada por um fio'. Eu ficava tão triste, mas descia no hospital onde tinha um Jesus grande em uma capela e dizia: Jesus eu queria tanto que o Senhor a curasse para a gente voltar para casa", desabafa Eugênia. No período que Eugênia ficou no hospital com a filha, as filhas caçulas, gêmeas, tinham apenas sete anos.
A ausência da filha e da esposa, em casa, foi o período mais difícil para Paulo
"A pedido do médico, tinha que ficar uma pessoa 24 horas acompanhando a Rita no hospital. Foi o período mais difícil para mim pela gravidade da doença e também pela ausência das duas, esposa e filha, em casa. Também a comunicação à espera de notícia de Curitiba era difícil, o telefone mais perto na época ficava na comunidade Colônia Ruthes. A expectativa de notícias, angustiava. E a informação que eu mais escutava era: tá normal, nem melhorou, nem piorou, está como antes. E assim foram longos meses", relata senhor Paulo.
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Rita reencontrou um novo sentido para a vida nas flores
Após o longo tratamento em Curitiba Rita retornou para casa cheia de presentes que recebeu de vários amigos que a visitaram no hospital. A maior parte desses presentes, Rita entregou às irmãzinhas, gêmeas, Luciana e Lucélia.
Já em casa, mesmo com sonda e com traqueostomia, Rita, que é hiperativa e não consegue ficar parada, encontrou um novo sentido para a vida. "Mesmo as sequelas pelo corpo e os aparelhos não me impediam de fazer mudinhas de flor. Comecei com as violetas", conta. A partir daí, tudo que Rita plantava, vivia "A folha que eu plantava dava uma muda. Naquele primeiro período, fiz cento e poucas mudas de violetas. Aquilo me fazia bem, me trazia alegria. Enquanto eu manuseava as flores esquecia dos meus problemas", relata Rita.
Em seu perfil no facebook, Rita deixa bem claro o seu amor pelas flores "Rita Flowers é o meu perfil". Flowers em inglês significa flores. E Rita desenvolveu um talento, um dom pela jardinagem, o jardim da sua casa é o seu recanto E refúgio. "Eu me apaixonei pelas flores. No jardim da nossa casa eu crio, invento e construo vários espaços para muitas espécies de flores". O aliado das artes de Rita é o pai, senhor Paulo. Ela idealiza e ele constrói: canteiros, casinha, trenzinho, arco, etc.
Todo esse dom e zelo é visto na propriedade da família Bossy, em Entre Rios II. A mais nova façanha de Rita e o pai é o projeto de um campo de cerejeiras, onde já estão plantados mais de cinquenta pés da árvore "Meu pai, com muito empenho e persistência encontrou um jeitinho de fazer mudas e o nosso plano é fazer um campo que será uma das principais vistas para quem chegar na nossa propriedade", explica a florista.
Senhor Paulo diz que a cerejeira plantada em sua propriedade é uma espécie do Japão. "A primeira muda veio de Curitiba e agora é a mãe de todas, as demais mudas todas vieram dela".
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Algumas flores são as preferidas de Rita
As orquídeas, flores-da-fortuna, os ipês, e claro, as cerejeiras, são algumas das espécies preferidas da Rita. "Gosto muito de ipê. Eu colho a semente, semeio, vejo germinar, mudo para o pacotinho até ir para o plantio definitivo, tudo com ajuda do meu pai, faço ele trabalhar bastante", menciona Rita entre risos. Bossy lamenta que as geadas prejudicam muito a espécie. "Eu tinha 470 pés de ipê plantados, mas em 2016 deu uma geada muito forte e chegou a matar pé grosso com três metros de altura".
No entanto, nem as intempéries climáticas conseguem parar os sonhos de Rita "Há dois anos fiz muda de ipê nativo, então, entre os ipês que já estavam plantados eu plantei ipês nativos, porque o nativo, quando a árvore alcança uma altura não morre mais. E eu sempre sonhei com a minha rua dos ipês para quando florir, as flores caiam na estrada para as pessoas passarem".
Muito simpática e de alegria contagiante, Rita diz que faz muitas trocas de mudas de flores com as pessoas e que são muitos os amigos. "Graças a Deus eu tenho muitos amigos, aonde saio todo mundo me conhece, muitos sabem da minha história, da minha luta. Para mim, o bem que a gente faz e a alegria que vivemos com as pessoas é muito importante", comenta Rita.
A companheira inseparável dos pais
"Ela é a nossa companheira. É o nosso futuro", garante dona Eugênia e acrescenta "A Rita é muito inteligente, prática e decidida. Ajuda o pai nos planos e com certeza é e sempre será nossa companheira".
Senhor Paulo expressa muita gratidão a Deus pela vida da filha "Me alegra muito a vida da filha. Graças a Deus temos ela conosco. Além de um exemplo de vida, é uma companheira, as ideias que ela dá sempre são boas. Superamos todos os problemas que passamos e estamos nós três juntos e vamos seguir até o fim o que era de ruim ficou para trás".
Palavras que definem Rita Bossy: Superação e amor pela vida
"No meu vocabulário não existe a palavra desistir", garante Rita Bossy. "Temos que encarar os problemas, ser forte e ter muita fé em Deus. Quando eu estava nos momentos mais difíceis da superação da doença, escutava as músicas do Padre Zezinho e eu chorava, mas aquilo me fortalecia", afirma a Terezinhense.
A mensagem que Rita deixa às pessoas é que não desanimem. "Às vezes a gente pensa que uma coisa que acontece na vida da gente é o fim, mas não é. muitas vezes é o começo de uma grande história. Deus tem tudo escrito na vida da gente e o que Ele quer para nós é o melhor. Acredito que Deus me usou de alguma forma com tudo que passei", revela.
Mesmo com as marcas e sequelas da doença, Rita garante: "Sou muito feliz. Eu falo com as flores, com os bezerros, com os bichinhos. É um jeito meu e gosto de ser assim. Não tenho vergonha de ser como sou".
Rita cita um livro que marcou a sua vida "O livro 'A Essência da Vida'. Neste livro tem uma frase assim: 'Ou você aceita a vida ou você é infeliz'. E é uma verdade, pois tem coisas na vida da gente que não podemos mudar. As minhas marcas eu não posso tirar de mim, mas posso ser feliz com elas, e eu sou". Recentemente, em 2018, um novo nódulo apareceu na parte frontal da cabeça da Rita, mas ela afirma que isso não a abala.
Para finalizar, Rita menciona os jovens atuais "Enquanto temos vida temos que aproveitar e não tomar caminhos errados como muitos jovens tomam. Tenho muita pena da juventude de hoje, porque a juventude é uma flor linda e se a pessoa perde o tempo da juventude esse tempo não volta nunca mais".
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