Relatório elaborado pelo Ministério Publico em conjunto com a Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina) concluiu que a morte de abelhas no início do ano no Planalto Norte de Santa Catarina ocorreu por causa de agrotóxicos.

Cerca de 300 colmeias foram afetadas entre fevereiro e março deste ano, o que causou prejuízos e preocupou os apicultores da região.

As mortes ocorreram em Mafra, Papanduva, Rio Negrinho, Canoinhas e Major Vieira. Os materiais coletados foram encaminhadas para um laboratório de São Paulo que foi responsável por identificar a presença dos agrotóxicos.

Morte de abelhas preocupa apicultores do Planalto Norte

A Cidasc solicitou aos produtores de lavouras dessas localidades os receituários e datas de aplicação de agrotóxicos. Além disso, foram feitas entrevistas e visitas às fazendas e plantações de milho e soja.

A partir dos laudos e da apuração nas fazendas, foram detectados ao menos três agrotóxicos, entre eles o que é altamente nocivo às abelhas, feito a base de Fipronil. Além desse, também foi identificado o uso de Triflumuron e Trifloxistrobina.

Medida só de orientação

Embora os laudos tenham constatado que a maior concentração de mortalidade foi em Mafra e Rio Negrinho, o relatório não conseguiu apontar um único produtor responsável pela contaminação das colmeias no início do ano.

A partir das informações obtidas, o MP e a Cidasc notificaram alguns produtores da região com receituários irregulares e se comprometeram a fazer trabalho de acompanhamento e conscientização para orientá-los sobre a aplicação dos agrotóxicos.

O controle sobre a venda e aplicação desses produtos é feito a partir de um receituário emitido com autorização de um engenheiro agrônomo ou técnico, cujo comércio ocorre nas agropecuárias. Antes de vender os produtos, os técnicos devem visitar a propriedade para elaborar o receituário de acordo com a área e o tipo de cultivo.

Segundo o coordenador do Centro de Apoio Operacional do Consumidor do MPSC, Eduardo Paladino, é comum que os próprios produtores informem esses dados nas agropecuárias e o receituário seja concedido sem que os técnicos visitem as lavouras.

Para o diretor da Faasc (Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina), Almir de Oliveira, além desse, o grande problema que causa a mortalidade das abelhas é o fato de o produto ser aplicado no período de floração da soja, que é quando elas e também outros insetos voam até as plantações para fazer a polinização e acabam contaminadas.

"Estamos tomando providências conjuntas para conscientizar e prevenir que isso volte a acontecer e para que o uso de agrotóxicos seja reduzido. Não somos contrários ao uso, sabemos que é necessário para a agricultura, mas deve ser feito da melhor forma para que não tenha impacto negativo sobre as abelhas e o ambiente. Existem outras formas de evitar pragas, com manejo integrado, priorização da agricultura orgânica e agroecológica", disse o promotor.

Fipronil é proibido na Europa

Além de produtores de mel, a mortalidade de abelhas preocupa outros produtores e pode comprometer o cultivo de alimentos, principalmente da fruticultura, porque são elas as principais responsáveis pela etapa de polinização. Por isso, o uso de Fipronil, que é muito nocivo às abelhas, foi proibido em outros países, principalmente na Europa.

No Brasil, existe uma recomendação do Ibama para que o inseticida não seja aplicado, mas o uso não é oficialmente proibido. A aplicação, no entanto, deve obedecer às normas de quantidade e também período de aplicação, que devem constar em receituário.

Confira mais detalhes dos laudos:

Laudo 1 - Major Vieira

Data de coleta: 25 de janeiro

Data de Conclusão: 22 de fevereiro

Ingrediente identificado: inseticida Fipronil

Laudo 2 - Rio Negrinho/Mafra

Data de coleta: 22 janeiro

Data de Conclusão: 22 de fevereiro

Ingredientes identificados: Fipronil e Trifloxistrobina

PATRICIA KRIEGER, FLORIANÓPOLIS