Conheça essa história que simboliza um ato de amor da família de Altair Florêncio
Adotar faz parte da família Florêncio, de Rio do Campo, um ato que chama a atenção de muitos, pois não adotaram apenas uma criança, mas sim três, e de uma mesma família "A nossa história de adoção, podemos dizer que foi algo assim sem planejamento, não tínhamos conversado sobre isso, embora a adoção sempre estivesse presente em nossa família, minha irmã tem um filho adotivo, o André, e minha cunhada também adotou uma menina, a Josiane. Acontece que certo dia apareceu o Mateus, trazido pelo conselho tutelar, a Erondina, minha esposa, falou 'Pediram para deixar um menino para a gente cuidar esse final de semana e a gente vai se apegar nele', e eu respondi em tom de brincadeira 'Daí a gente fica com ele'. Também ficamos sabendo naquele momento que ele tinha mais irmãos e que provisoriamente foram para outra família. Quando o Mateus chegou em nossa casa ele estava debilitado e numa situação de maus tratos, a decisão de ficar com ele foi imediata", relata Altair Florêncio.
O sentimento de adoção despertou de forma espontânea, mas havia um problema muito grande a ser resolvido "Nós não tínhamos sequer um cadastro para adoção", destacou Florêncio, "Resolvemos correr atrás do que precisava. Fizemos o cadastro, veio o estudo social e a assistente social, que naquela visita jogou um balde de água fria e disse 'Vocês têm condições sim de adotar, mas é quase impossível que seja esse menino aí, vão ter que cumprir todo o trâmite', apesar de nós sabermos que ela tinha razão, nós tínhamos a certeza que seria ele. Com o auxílio de um advogado amigo nosso, entramos no Fórum com um processo de pedido de adoção, que correu junto com o processo de destituição deles. Foi um processo demorado, mas que acabou por nos ajudar, porque ele já tinha crescido, tinha criado vínculo, já era nosso filho", conta orgulhoso o pai Florêncio.
"Durante esse período, quando o Mateus já começou a compreender melhor as coisas, nós falamos para ele dos irmãos, e ele sempre guardava brinquedos que era para dar para o Cleitinho e para a Tais. A família que estava com eles não sabia que o Mateus estava com a gente, mas nós sempre acompanhamos a situação das crianças, levando roupas, brinquedos, arrumamos uma cama para eles, porque nas visitas que nós fazíamos, descobrimos que eles dormiam em cima de sacos de roupas, nos sentíamos responsáveis em dar a eles um pouco de conforto que o Mateus já possuía. Quem sempre fazia as visitas eram nossos familiares, filhos e parentes próximos, um dia a Erondina também foi junto. A Tais tinha uma boneca e perguntaram para ela como era o nome da boneca e ela disse 'É Mateuzinho', e por que esse nome? Ela disse 'É o nome de meu irmãozinho que mora lá em Rio do Campo', naquele momento percebemos como eles permaneciam unidos, mesmo separados. A partir daí decidimos que se eles não fossem para adoção nós iríamos pedir para ficar com eles também".
O processo de adoção dos irmãos durou três anos até a decisão final. Quando a família Florêncio recebeu o comunicado que o Juiz e o Promotor queriam conversar sobre as crianças, a família ficou apreensiva "Mesmo sabendo que era difícil perder a guarda do Mateus o medo era grande. O juiz nos comunicou que a decisão dele seria de acatar o pedido de adoção do Mateus, e pediu se nós queríamos também ficar com os outros dois, não pensamos duas vezes e o que era só um sonho estava se realizando", conta Altair Florêncio.
A chegada dos irmãos Cleiton e Tais, junto com Mateus, foi um momento inesquecível para a família "Quando chegaram deu para perceber o quanto eles estavam abandonados à própria sorte, falta de cuidados básicos de higiene, saúde e total desinteresse quanto ao aprendizado. Mas o que nos emocionou foi ver os três brincarem, a impressão que dava é que já viviam muito tempo juntos, brincaram tanto naquela noite que não conseguiram dormir. Foi algo assim quase inexplicável, porque já no primeiro dia começaram a chamar a gente de pai e mãe".
Sobre o comportamento dos três irmãos, Altair Florêncio explica "O comportamento do Cleiton e da Tais foi de voltar no tempo, tomavam mamadeira e se igualaram ao Mateus. Tudo tinha que ser igual para os três, e isso permanece até hoje ainda. A partir daí veio o desafio de integrar eles na nossa família, o que muito nos ajudou, além dos conselhos do meu amigo e conselheiro Pe. Saule, foi que os filhos biológicos todos aceitaram e deram total apoio nessa nossa decisão, e nos ajudam diariamente na tarefa de recreação, diversão, na educação propriamente dita, nas tarefas escolares, na dificuldade de impor os limites, e nas demonstrações de afeto e carinho".
A família Florêncio cuida muito das crianças e oferece oportunidade para que as crianças possam ter um futuro ainda melhor "Hoje eles já tomaram conta de seu espaço na nossa família. Estamos trabalhando na alfabetização do Cleiton e da Tais. O Cleiton está na quarta série, já repetiu um ano e a Tais está na terceira. Ambos foram diagnosticados com transtorno do déficit de atenção e como parte do tratamento estamos utilizando medicação apropriada, na escola tem a atenção de um segundo professor. No entanto o que temos como nosso maior desafio com relação ao futuro deles, é ensinar valores, torná-los pessoas de bem e de princípios, educá-los na fé, para escapar das armadilhas que esse mundo cada vez mais perigoso oferece".
A família sempre chama atenção por onde passa "Quando a gente sai com eles as pessoas vem nos abordar, uns para dizer 'Meus parabéns, que atitude maravilhosa', outros falam 'Que coragem a de vocês', apesar de fazer bem os elogios, e também as críticas, não foi para isso que decidimos pela adoção, sempre digo que o maior bem não foi para eles, foi para nós. A adoção é um ato de amor, tem que ser por amor. Nenhuma adoção de criança tem que ser por piedade, tem que ser respeitada como um ser único, como um ser humano que nasceu para fazer parte e estar inserido na sociedade. Nós não temos dúvidas que fizemos a coisa certa, e esperamos que isso possa despertar outras pessoas para praticar também este ato de amor".
Hoje Mateus está com seis anos, mas chegou na família de Altair Florêncio com apenas seis meses de idade, Tais está com oito, mas chegou quando tinha seis anos e o irmão mais velho, Cleiton, hoje está com dez anos, mas foi acolhido quando ainda tinha oito anos de idade.
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