Após mais de 20 anos lecionando, com formação em história e sociologia, neste ano Marinho Meurer aceitou o desafio de ser diretor da EEB Dr. Fernando Ferreira de Mello de Rio do Campo. E não poderia ter sido mais desafiador. Logo no ano inicial, a pandemia devido ao Coronavírus fez com que as aulas mudassem radicalmente da forma presencial para on-line, em meados do mês de março. Para falar mais sobre esse fato, o diretor recebeu a equipe do JATV no educandário e esclarece diversas situações, além de deixar recados aos pais, professores e aos 618 alunos matriculados na escola, do 1º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio.


JATV: Como está o andamento das aulas neste período de pandemia?

Marinho: É uma grande novidade. As aulas acontecem de forma on-line para quem tem internet. Para quem não possui internet estamos disponibilizando atendimento nas tardes das segundas, quartas e sextas-feiras para retirarem o material impresso na escola. Em alguns casos, eu e as assessoras que me auxiliam estamos passando nas casas de alunos para deixar o material.


JATV: Em qual data iniciaram as aulas on-line?

Marinho: Foi no dia 06 de abril. Todo professor deve lembrar a sua primeira vez em uma sala de aula. Agora, voltaram a ter esse frio na barriga. Foi tudo novo. Um desafio que nem nos piores pesadelos dos nossos professores imaginava-se passar por isso.


JATV: Os alunos se adequaram bem a esta nova forma de ensino?

Marinho: Eles estão adaptados a tecnologia. Navegam nas redes sociais e antes da parada, já navegavam em sites. Mas para as aulas on-line, temos uma dificuldade muito grande. O aluno não se adaptou à rotina. Muitas atividades estão atrasadas. O grande desafio do aluno é criar a rotina de estudo. Sentar na sala da sua casa e focar uma ou duas horas no estudo e fazer as atividades.


JATV: Quantos alunos da escola não possuem acesso à internet?

Marinho: Na verdade, são poucos. De 30 a 40 alunos que não têm acesso. O problema é a ferramenta de trabalho. Às vezes a família tem um smartphone e não possui computador, tablet ou notebook. Alguns programas educacionais sequer são feitos para celular. Têm famílias também com mais de um filho em idade escolar e só um celular na casa. Aí sobrecarrega. A quantidade de alunos sem os equipamentos adequados é grande. Nas tardes das terças e quintas-feiras, vamos atrás dos pais para ajudar de alguma forma. Fazemos o contato por telefone ou pessoalmente.


JATV: Como tem sido a adaptação dos professores a essas aulas?

Marinho: Eles receberam a formação on-line no dia 02 de abril e começaram a lecionar alguns dias depois. Foi um turbilhão de informações. O que precisaria de dois ou três anos de curso, foi passado em duas semanas. Muitos professores não conseguiram assimilar. Fazemos reuniões on-line para tentar orientar. O que ajuda muito são os grupos de WhatsApp. Toda turma tem o seu grupo. Felizmente, temos professores muito qualificados. Eles estão se ajudando.


JATV: Qual a maior dificuldade que, como gestor da escola, você enfrentou ou enfrenta neste período?

Marinho: Foram várias. Uma que lembro foi o clima que se criou quando as aulas foram canceladas. As pessoas ficaram muito apreensivas e preocupadas. Outra dificuldade que temos é o contato com a família. Quero fazer um apelo aos pais para que eles cobrem os filhos. Nosso ano letivo está sendo nessa realidade. Precisamos que os alunos deem as devolutivas para que possam ser avaliados.


JATV: Na sua visão, a qualidade do ensino no formato on-line mantém o bom rendimento tanto quanto na fase presencial?

Marinho: Não mantém. Perde muito. Temos 10% dos alunos com grande facilidade. Mas a maior parte precisa muito do auxílio do professor. Eu sempre fui a favor do debate. Assim a gente cresce mais. Os professores são os que dão o caminho para seguirmos. Essa falta de contato e impossibilidade de perguntar ao professor faz com que tenha uma perca significativa na qualidade da aula.


JATV: O senhor já tinha vivenciado no setor de ensino algo parecido com esse período de pandemia?

Marinho: Leciono há vinte anos. E enfrentar uma dificuldade dessa no ano inicial que sou diretor, não é fácil. Nunca vivi e nem imaginei que passaríamos por algo parecido com o que estamos vivendo. No dia 18 de março, quando liberamos os alunos, me vinha na cabeça pessoas no supermercado e aquela cena de guerra, sabe? As pessoas atordoadas. Enfim, é um momento psicologicamente delicado. Precisamos entender o dever dos pais e da escola. Acho que ninguém tinha passado por algo dessa magnitude.


JATV: Em sua opinião, como profissional em sociologia e história, qual o maior impacto dessa pandemia no cenário social e histórico?

Marinho: Precisaria de muito tempo para debater essa ideia. Mas talvez seja a questão psicológica. Costumo dizer que jamais seremos uma ilha. Tudo está ligado. O psicológico com o social, que está ligado ao econômico. Enfim, nosso adversário não tem uma cara e precisamos enfrentá-lo. É um vírus que parece frágil, mas é perigoso e mortal. Penso que sendo uma guerra ou pandemia, sempre nos traz uma lição. Essa pandemia nos traz reflexões. Nossa vida é curta. Não podemos deixar as coisas para amanhã. Outra coisa que notei é que consumíamos muita coisa que não precisávamos. Conseguimos viver sem uma série de coisas que nos foram tiradas. Economizávamos para pagar um ingresso de futebol ou para ir a um grande show. Isso é uma lição para a sociedade. Espero que voltemos mais humanos depois dessa pandemia. E que possamos ter uma sociedade melhor do que a que tínhamos.