12 de junho é o Dia dos Namorados. Em tempos em que o amor entre duas pessoas está cada vez mais difícil de encontrar, dicas e conselhos sobre a alegria de viver a dois sempre são bem-vindos. O que dizer de duas pessoas que já passaram 52 vezes casados por essa data e continuam se amando? A equipe do JATV foi até a Comunidade da Serra do Mirador, no interior de Rio do Campo e encontrou o casal Malcioni Moreira (73) e sua esposa Maria Moreira (72). A alegria contagiante deles é marca registrada. Pais de quatro filhos (uma falecida com dois meses de vida) e orgulhosos dos seis netos, "Os Moreiras" aceitaram fazer um bate-papo contando um pouco mais sobre o segredo dessa felicidade que aflora no casal.

Ele nasceu em Agronômica em um ranchinho coberto de funilhas. Já ela, nasceu em Atalanta e aos dois anos, foi com a sua família para Barra Grande, em Salete. Cerca de dez anos depois, mudaram-se novamente. Dessa vez, para Agronômica, onde a jovem Maria conheceu o grande amor da sua vida. Extremantes de terra, se encontravam bastante. Mas foi apenas quando ela completou dezoito anos que o romance iniciou.

Com sorriso no rosto, Malcioni conta como engataram o início do namoro. "Tinha um tal de Fernando que queria namorar com ela. Mas eu estava de olho nela. O Fernando pediu pra eu dizer pra Maria que ele queria namorar com ela. Passei o recado. Ela disse que não queria saber daquele cara". Sabendo disso, em um determinado dia, Malcioni levou Maria e suas irmãs de carroça para um baile em Agronômica. Na volta, em um dia chuvoso, foi quando ele teve a coragem de revelar seus sentimentos para a sua até então vizinha. "Ele disse que na chuva que era bom. Pois se a gente começasse a namorar em um dia de chuva, o relacionamento daria certo. Me lembro como se fosse hoje. Deixamos a carroça na casa da minha irmã e fomos a pé. Tiramos os calçados pra não sujar muito. Ele estava com a roupa toda suja de lama" lembra ela com detalhes dos 5km de caminhada que deram início ao namoro.

Se a cantada da chuva foi boa ou não, é outra história. O que importa é que deu certo. No primeiro dia que a levou em casa, não entrou. Deixou a jovem Maria no portão. Mas o primeiro dia que entrou na casa da família da sua namorada, ele também não esquece. "Eu estava com vergonha. Além dos pais dela, outras duas pessoas estavam lá. Era casa de caboclo. Tinha dois tijolos e um pedaço de pau em cima. Cheguei, pisei na ponta da tábua que já virou. Não caí, mas a vergonha aumentou ainda mais" contou Malcioni. Mal sabia ele que o senso de humor também era característica do seu sogro, hoje já falecido. O pai de Maria pediu se o rapaz estava ali para jogar quilica com o Toninho, seu filho.

Maria confessa que de início não tinha interesse em namorar com seu atual marido, pois eram muito novos. Além disso, a veia humorística de Malcioni se manifestava desde cedo. "Um dia eu fui à casa dele e ele 'botou os cachorros pra cima de mim' e 'ria que se matava'. A minha sogra veio pra bater nele" lembra ela. Outra peripécia em dia de chuva de Malcioni foi contada por dona Maria. "Nossas famílias trocavam livros de novelas. Deixei o guarda-chuva na porta da casa deles. Quando fui abrir, ele tinha enchido de pedrinhas" conta ela sorrindo.

O namoro deu lugar ao casamento no dia 08 de junho de 1968 na Igreja Matriz de Rio do Sul. Portanto, nessa semana, completaram 52 anos casados. Mais uma vez "fazendo graça", Malcioni conta que mais de 300 pessoas foram convidadas. Na igreja, poucos foram. Mas na festa, não faltou um. A coincidência é que choveu também nesse dia. Ele também conta que uma das maiores alegrias foi ver a foto deles casados.

O semblante mudou quando questionado sobre o motivo de ter escolhido Maria para ser sua esposa. Convicto, Malcioni conta que um dos principais motivos foi o de conhecer a família dela e saber que eram pessoas de bem. A admiração também se dava devido ao amor pelo trabalho que ela tinha na época. Depois, conhecendo-a melhor, veio o amor que sustenta e só cresce até os dias de hoje.

Já ela conta que começou a gostar das brincadeiras que ele fazia e começaram uma amizade que virou amor. Eles contam que ainda se consideram namorados e aproveitaram muito bem a vida. Amavam ir a bailes. Lembraram que quando iam a casamentos, seus filhos acordavam às 8h da manhã com eles e os gaiteiros no gramado da casa. Aproveitavam cada instante.


A maior tristeza do casal

É impossível com tantos anos de convivência, não haver um momento triste. O que eles mais lamentam não foi uma briga entre eles ou algo que estivesse ao controle deles. Infelizmente, Marlise que foi a primeira filha do casal, faleceu com pouco mais de dois meses de idade. Dona Maria sentiu muito esse lamentável fato. A dor só amenizou quando veio o outro filho, Marcelo. Depois dele, veio Madilson. 11 anos depois, a caçula Mariele completou a alegria do casal.

As alegrias só aumentaram com a chegada dos netos, que Malcioni fez questão de falar nome por nome por ordem cronológica. Suelen, Marlon, Manuela, Maira, Mateus e Murilo.


O que significa amor e família?

Para dona Maria, essas duas coisas são tudo na vida. E sua definição de família chama a atenção: "Acho que uma pessoa sem família não pode ser feliz sem esse aconchego".

Já para Malcioni, o amor é respeito. E a família, além de preencher o vazio do ser humano, a próprio termo "família" é um significado de amor.


Maior qualidade

Dona Maria crê que o que mais chama a atenção no seu esposo é o amor e a dedicação que ele tem com a sua família. "Ele nunca deu um tapa nos filhos. Fazia eles chorarem só com as palavras, fazendo eles entenderem a vida". Outra qualidade que chama a atenção é a paciência e o companheirismo. Vendo que sua esposa não gostava de ficar só em casa, ele propôs que os dois trabalhassem na roça, e da mesma forma, os dois fizessem os trabalhos de casa, deixando sua esposa ainda mais feliz. Malcioni atacou novamente com suas pitadas de bom humor: "Eu era 'marica' da minha mãe. Sabia fazer tudo. Lembro da primeira polenta que a Maria fez. Era 'polenta de afogar gato'. Tinha que botar o dedo no céu da boca pra desgrudar".

Voltando a seriedade, ele afirmou que é difícil elencar só uma qualidade da sua esposa, pois são várias. Após pensar um pouco, lhe veio à cabeça a seriedade e a honestidade da sua companheira. "Se ela faltou com respeito foi muito escondido" diz ele gargalhando.


Segredos da longevidade de um casamento

Diálogo, amor e respeito mútuo. Essas foram as primeiras palavras que vieram do casal. "Hoje em dia por qualquer coisinha cada um vai para um lado e se separam. Se a gente for fazer isso por qualquer probleminha de casal, nunca dará certo. Se separar por cada coisa que dá errado? Deus me livre. Aí não sobrará um casal sequer" diz dona Maria. "Tivemos momentos difíceis no casamento. Orávamos de mãos dadas, um dando força pro outro. Hoje em dia, 'qualquer pulga vira um elefante'. Fazem de uma coisa pequena algo grande. Não pode ser assim", diz ele.

Para finalizar a entrevista, Malcioni fez questão de ressaltar: "Eu sou um cara realizado. Sempre digo isso. Lutei muito pra ter os filhos perto de mim. Quando deixei de ser instrutor de fumo da Souza Cruz, comprei esses lotes de terra e trouxe eles pra cá. A gente também deu estudo para os filhos. O que eu queria era exatamente como está aqui, cada um 'no seu chiqueiro', no seu lugarzinho" comemora ele.

Dona Maria também se alegra ao falar da vida: "Muitas vezes eu estou aborrecida por causa de alguma doença. Mas aí eu olho pra trás e digo: Eu sou feliz porque meus filhos estão felizes. Demos 'a faca e o pão pra eles'. Somos muito felizes" finaliza dona Maria.

É difícil ter uma fórmula do sucesso no casamento. Mas uma coisa é certa: seguindo as dicas e recomendações desse casal, a possibilidade de os casais comemorarem muitas vezes o Dia dos Namorados juntos, é grande. A receita não é simples. Mas uma boa dose de companheirismo com uma pitada de bom humor, misturados com muito, mas muito amor, certamente é a forma mais fácil de montar um delicioso ninho de amor.