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Difícil decisão

Caminhoneiros, entre o medo e a obrigação de não parar

Peterson conta que tem medo de pegar o coronavírus e contaminar sua família

Luvas, máscara e álcool em gel viraram companheiros de estrada do caminhoneiro Peterson Macedo, 39 anos. Sentindo-se impotente diante da ameaça provocada pelo novo coronavírus, ele conta que cada volta para casa é um alívio.

Pai de duas meninas, uma com 1 ano e 3 meses, e outra com cinco anos, que tem asma, Peterson teme por se expor e levar Covid-19 para dentro de casa.

"Fico inseguro na volta para casa. Minha família também tem medo, mas está me apoiando porque sabe que é preciso trabalhar, pois, se parar o transporte, para tudo. A gente tem medo que eu possa me contaminar, porque, apesar de eu me cuidar, sempre estou em lugares onde não conheço as pessoas. Esse vírus é complicado pelo simples fato de ser um mal invisível, a gente não sabe quem tem ou quem não tem", desabafa.

Caminhoneiro há duas décadas, ele leva maçãs da Serra Catarinense para o sudeste do Brasil. Na última viagem, saiu de Lages no dia 3 de abril, foi até o Espírito Santo, depois São Paulo e, na quinta-feira (16), chegou a Lages novamente. Desde o início da quarentena, o número de viagens reduziu.

"A gente chega nas cidades e fica mais tempo parado, demora pra mais pra arrumar carga pro retorno. Tem colega que chega a ficar 10 dias parado, dependendo do segmento que trabalha. No meu caso, já tenho cargas pré-programadas pra ir e voltar, mas quem depende mais de transportadora e coisas assim, tá ficando mais parado."

Mesmo com medo do que pode acontecer com a saúde dele ou da sua família, Peterson segue na estrada, fazendo o possível para obedecer às recomendações: usa máscara e luva quando precisa parar em locais com muitas pessoas e fez do álcool em gel um elemento indispensável.

Por outro lado, o caminhoneiro e empresário Feliseu Schiochet, 51 anos, conta que, apesar de manter luvas, máscaras e o álcool em gel na cabine do caminhão, usa pouco e não segue à risca as medidas de proteção recomendadas pelas autoridades de saúde.

"Quando alguém pede eu vou e coloco, mas eu acho que gripe sempre matou, só que a gente tem que se cuidar um pouquinho melhor, a gente é meio descuidado nas coisas", comenta.

Proprietário de uma empresa de transportes e outra de laticínios em Vacaria (RS), ele conta que viu as vendas caírem 80% nas últimas semanas.

Ele compra queijos em Minas Gerais e revende no Rio Grande do Sul, mas também tem clientes na Serra Catarinense. Para ele, a crise econômica é maior que a da saúde e esta, por sua vez, ganha proporções maiores por causa da imprensa.

"Desde quando começou esse vírus eu tentei sempre baixar a cabeça e trabalhar. O pessoal falava isso e aquilo pra mim, começou a parar aqui, parar ali, parar lá e atrapalhou um monte meus negócios. Já estou devendo um monte, precisei até fazer financiamento pra pagar certas coisas, mas não parei [de trabalhar]."

Feliseu conta que tem tentado manter o equilíbrio das suas empresas e já cogita ter que demitir alguns funcionários. "Tô tentando negociar com eles, pra eles também ter um jogo de cintura comigo, e agora o governo também tá querendo ajudar eles. Eu tô muito triste de ter que demitir, mas tô tentando segurar no máximo pra não fazer isso. Fico triste em largar eles, mas é o modo mais correto pra empresa tentar sobreviver", completa.

Feliseu acredita que a pandemia não é tão grave e afirma estar preocupado com os efeitos para a economia


Autopista cria pontos de apoio ao longo da BR-116

Sabendo que o trabalho realizado pelos caminhoneiros é essencial para a movimentação da economia, recentemente a Arteris lançou um portal de serviços com todos os postos em funcionamento nas rodovias administradas pela empresa.

O portal fornece informações sobre de alimentação, descanso, vestiário e suporte de manutenção aos veículos durante a pandemia. São mais de 400 estabelecimentos parceiros nos 3.400 km de rodovias, em cinco estados brasileiros administrados pela empresa - São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.

No trecho administrado pela Arteris Planalto Sul entre Curitiba (PR) e Capão Alto (SC), mais de 40 postos de serviços seguem operando normalmente, com serviços como refeição (marmitas), sanitários, borracharia, lavação de veículo, vestiário com chuveiro e área de descanso.

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