Dados oficiais da Secretaria de Estado da Segurança Pública apontam um crescimento expressivo no número de mortes decorrentes de intervenções policiais em Santa Catarina. Em um intervalo de quatro anos, a letalidade mais que dobrou, passando de 44 registros em 2022 para 96 mortes contabilizadas em 2025.

De acordo com a Gerência de Estatística e Análise Criminal, o aumento foi gradual ao longo dos anos. Em 2023, o estado registrou 80 mortes em confrontos policiais. Em 2024, houve leve recuo, com 79 óbitos. Já em 2025, os números voltaram a subir e superaram todo o total do ano anterior ainda antes do encerramento do ano.

Na comparação direta entre 2024 e 2025, o crescimento da letalidade policial foi de 21 por cento.

Queda nos homicídios comuns contrasta com alta em confrontos

O crescimento das mortes em ações policiais ocorre em sentido oposto à redução dos homicídios em geral no estado. Excluindo os óbitos decorrentes de confrontos, Santa Catarina registrou queda de 15 por cento nos homicídios, passando de 456 casos em 2024 para 386 registros até dezembro de 2025.

Mortes de adolescentes geram revolta em comunidades

Entre os casos que geraram maior repercussão estão as mortes de dois adolescentes em comunidades de Florianópolis. Um jovem de 17 anos foi morto durante uma operação policial no Morro do Mocotó, em dezembro. Segundo a Polícia Militar, houve confronto armado. Familiares e moradores contestam a versão oficial e afirmam que o adolescente estava desarmado.

Outro caso ocorreu em setembro, quando um adolescente de 16 anos foi morto dentro do próprio quarto, no bairro Monte Cristo, durante uma ação policial.

As mortes provocaram protestos nas comunidades, com pedidos por mudanças na política de segurança pública e redução da violência policial.

Especialistas apontam falhas na investigação

Para especialistas, a forma como os episódios são investigados é um ponto central do debate. O promotor de Justiça Jádel da Silva Junior afirma que, em Santa Catarina, a Polícia Militar investiga ocorrências envolvendo seus próprios agentes, o que pode gerar conflitos de versões com investigações paralelas da Polícia Civil.

Debate sobre o uso de câmeras corporais

O uso de câmeras corporais por policiais voltou ao centro das discussões. O programa foi interrompido em setembro de 2024, sob alegação de problemas operacionais e falta de recursos. Para a OAB de Santa Catarina, os equipamentos são instrumentos eficazes para reduzir a letalidade policial e garantir transparência.

Um acordo firmado pela Defensoria Pública prevê estudos para a retomada do uso das câmeras, com prazo para apresentação de resultados até março de 2026.

Aumento das operações policiais

A Polícia Civil atribui parte do aumento das mortes ao crescimento no número de operações. Em 2023, foram pouco mais de 500 operações. Em 2024, o número ultrapassou 900. Já em 2025, foram realizadas mais de 1.600 operações em todo o estado.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública afirma que o confronto nunca é a opção do policial e que a prioridade das forças de segurança é a prisão de suspeitos.

Em nota, a Polícia Militar reiterou que suas ações visam preservar a ordem e proteger a vida da população catarinense, destacando que Santa Catarina figura entre os estados mais seguros do país.

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Fonte: Secretaria de Estado da Segurança Pública de Santa Catarina / NSC

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