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Por Folhapress


O ibuprofeno, substância presente em anti-inflamatórios, pode agravar o quadro da doença causada pelo coronavírus. Depois de uma pesquisa publicada pela revista científica "The Lancet" no dia 11, o ministro da Saúde da França, Olivier Véran, alertou contra o uso do medicamento no tratamento do Covid-19.

O pedido do ministro francês foi de que as pessoas com febre e suspeita de infecção pelo novo coronavírus evitem tomar anti-inflamatórios como o ibuprofeno para controlar seus sintomas. "Em caso de febre, tomem paracetamol. Os anti-inflamatórios poderiam ser um fator de agravação da infecção", declarou Véran.

Já está claro que pessoas com problemas cardiovasculares (em especial hipertensão) e diabetes correm risco aumentado de ter problemas mais sérios com a moléstia, e eles propõem que parte da razão tem a ver com remédios que funcionam de modo semelhante ao ibuprofeno.

Ocorre que pessoas com doenças cardiovasculares e diabetes muitas vezes utilizam medicamentos conhecidos como inibidores de ECA (enzima conversora da angiotensina). Essa molécula, presente de modo natural nas células humanas, é importante nos processos que acabam levando ao aumento da pressão do sangue -portanto, faz sentido que hipertensos e diabéticos usem remédios que barrem a ação da ECA.

O problema é que os inibidores de ECA, bem como outros remédios com efeito similar sobre o sangue, acabam levando à ativação mais intensa de outra molécula parecida, a ECA2. E, conforme mostrou um estudo recente na revista especializada Science, a ECA2 é o receptor, ou seja, a "fechadura química", usada pelo novo coronavírus para invadir as células de suas vítimas. O ibuprofeno também é capaz de aumentar a presença de ECA2 nas células.

Ou seja, o uso de tais remédios multiplicaria as "fechaduras" nas quais o vírus se encaixa, potencializando sua ação. Isso explicaria o porquê de hipertensos, pessoas com doenças cardíacas e diabéticos estariam sofrendo mais: os medicamentos tomados por esses pacientes dariam um empurrão extra à ação do coronavírus. 

Na pesquisa da Lancet, Roth e seus colegas apontam que há outros tipos de remédios para essas doenças preexistentes, os quais, pelo que se sabe, não teriam o mesmo efeito facilitador para o coronavírus. É importante lembrar que a análise feita pelos pesquisadores envolveu apenas correlações - eles não chegaram a testar o efeito nocivo dos medicamentos citados analisando células humanas ou cobaias em laboratório, por exemplo.