Filhos do primeiro paciente a morrer com Covid-19 em SC são submetidos a teste
mesma hora
Entenda os critérios para testagens em Santa Catarina
- Por: G1 SC - Foto: Leonardo Sousa/PMF
Quase um mês após terem o último contato com o pai, os filhos de Harry Klueger, primeira pessoa a morrer em Santa Catarina com Covid-19, foram submetidos ao teste para saber se tinham contraído a doença. Eles fizeram a testagem rápida da Prefeitura de Florianópolis na segunda-feira (20). O resultado foi negativo. Os irmãos também não apresentaram sintomas do novo coronavírus nos últimos dias.
O homem de 86 anos morreu na madrugada de 25 de março. Ele era de Porto Belo, no Litoral Norte, e estava havia poucos dias em uma instituição de longa permanência de idosos em Antônio Carlos antes de ser internado no Hospital Regional de São José, onde morreu e foi submetido a teste para saber se a causa foi gripe. O resultado de Covid-19 foi confirmado à noite pelo Governo do Estado, mas a família já havia sepultado a vítima, sem saber que ele era um caso suspeito de coronavírus.
Dois dos filhos de Harry Klueger moram em Florianópolis e uma em Blumenau. Eles se revezavam nos cuidados com o pai em Porto Belo e tiveram com ele dias antes da morte. Foram os dois moradores da capital, um de 66 anos e outro de 57, que levaram o pai até Antônio Carlos e tiveram contato com ele quando o idoso foi internado.
Na tarde de sexta-feira (17), Reinaldo foi procurado pela Secretaria de Saúde de Florianópolis para realização do teste. A ligação ocorreu após a reportagem do G1 procurar a pasta municipal, por meio da assessoria de imprensa, para saber se os irmãos se enquadrariam entre as pessoas monitoradas como suspeitas de coronavírus na capital, visto que tiveram contato com uma vítima fatal da doença, apesar de não apresentarem sintomas.
"Eu só fiz o exame para desencargo de consciência, pois sabia que não tinha nada", conta Reinaldo Klueger.
Ele, a mulher e o irmão foram ao Terminal de Integração da Trindade (Titri), onde a prefeitura está aplicando os testes. O resultado de "não reagente" na detecção de anticorpos para o coronavírus dos três saiu no fim da manhã de segunda.
Além de Harry, outros três idosos que estavam no mesmo lar de repouso também morreram. O asilo é considerado o epicentro da doença em Antônio Carlos. Outros 31 diagnosticados também morreram em Santa Catarina em decorrência do coronavírus. Além das pessoas que perderam a vida, mais 1.028 tiveram diagnóstico confirmado pelo Governo do Estado, que anunciou na noite de segunda (20) a autorização para atividades ao ar livre e retorno de missas, cultos e abertura de shoppings.
Demora na realização dos testes
Com a morte do pai, os irmãos foram orientados pela Secretaria Municipal de Saúde de Porto Belo a cumprirem quarentena em suas casas por pelo menos 14 dias. Nesse período de isolamento, eles contaram com auxílio de vizinhos.
Até sexta-feira (17), segundo Reinaldo, a família não havia sido procurada por ninguém da Vigilância Epidemiológica e de Saúde estadual ou municipal para testes ou mesmo para acompanhamento.
O teste rápido foi agendado para sábado (18), segundo Reinaldo. Ele diz que o irmão, ele e a mulher chegaram a ir no Titri na manhã de sábado, mas não havia realização de exames no local. Reinaldo diz ter procurado a Secretaria e reclamado por telefone sobre o transtorno e o atendente teria se desculpado pelo erro da data e reagendou os exames para esta segunda-feira (20).
A Prefeitura, por meio de nota da Secretária de Saúde, informou que a família não teria necessidade de ser acompanhada e submetida a testes porque não procurou a Secretaria de Saúde relatando sintomas e, por isso, não se enquadraria em casos suspeitos.
"O município, no entanto, começou a fazer testes nestas pessoas na semana passada, para identificar mais rapidamente possíveis casos leve ou assintomáticos e intervir na interrupção da transmissão da doença. Todos as pessoas que tiveram contato com caso positivo de Florianópolis já começaram a ser contatadas nos últimos dias", informa a nota enviada no início da tarde de segunda-feira.
A Secretaria de Saúde de Florianópolis não confirmou se a família já era monitorada ou não antes de a Prefeitura ser procurada pela reportagem do G1 na sexta (17), se havia sido comunicada pelo Estado ou por outra prefeitura sobre os moradores que tiveram contato com uma vítima fatal da doença, nem se o exame chegou realmente a ser agendado para sábado por engano.
Critério para testagem
Uma nota técnica publicada pela Superintendência de Vigilância em Saúde de Santa Catarina estabelece como casos suspeitos as pessoas que apresentem sintomas, e não informa sobre os casos assintomáticos, nem sobre quem teve contato com pacientes confirmados com a doença. Mesmo assim, as prefeituras de cidades onde ocorreram mortes dizem estar acompanhando os familiares das vitimas fatais. O documento do Estado detalha também como devem ser aplicados os testes.
Desde o decreto de emergência no estado, o governo de Santa Catarina tem dito que prioriza os casos graves de pessoas com sintomas para serem submetidas a testes de biologia molecular, por causa do número baixo de kits no mercado. Já os testes rápidos, os considerados imunológicos, têm sido priorizados aos trabalhadores da saúde e da segurança e salvamento.
De acordo com a norma técnica do Estado de Santa Catarina, o teste de laboratório deve ser feito em até sete dias dos primeiros sintomas da doença, de preferência entre o terceiro e quinto dia. Já o teste imunológico deve ser aplicado após sete dias do início dos sintomas. Mas não informa se há prazo máximo para que o resultado seja considerado satisfatório.
Em Florianópolis a prefeitura adquiriu testes rápidos e começou a aplicar no aeroporto e também no Titri para as pessoas consideradas casos suspeitos de coronavírus por terem relatado sintomas à Secretaria de Saúde. O teste é feito após agendamento pela Secretaria de Saúde em dias úteis. Até a tarde de segunda, ao menos 226 tinham sido feitos pela prefeitura, com 31 resultados positivos para a doença.
O teste rápido aponta se a pessoa adquiriu anticorpos para o coronavírus, o que não necessariamente significa que ela não possa ser atingida pelo vírus novamente. Há casos de pacientes que pegaram o coronavírus mais de uma vez. Estudos para desenvolver anticorpos para doença têm sido realizados, inclusive no Brasil.
A Prefeitura de Florianópolis também reforça que quem tiver sintomas da doença e residir na cidade deve procurar o serviço do Alô Saúde pelo 0800-333-32-33
O Governo do Estado não confirmou ao G1 quem deve informar as prefeituras sobre a existência de moradores que tiveram contato com pacientes confirmados da doença, mas a nota técnica estabelece que os laboratórios e prefeituras devem comunicar o Estado dos casos confirmados em seus respectivos municípios.
Após a apreensão de quase um mês sem saber se poderia ser um paciente assintomático do coronavírus, Reinaldo e a família devem continuar em quarentena, priorizando o isolamento social. Ele e os irmãos não possuem problemas de saúde.
"Temos que continuar nos cuidando, continuamos no grupo de risco", afirmou o homem de 66 anos.
Deixe seu comentário