logo RCN
Rio do Campo

Uma história de superação

data-filename="retriever" style="width: 100%;">

Fotos. Jornal A Tribuna do Vale

Um pai, um filho e um propósito. O pai, José Lueckmann, agricultor. O menino, ainda bebê, com poucos dias de vida, batizado como Jucinei. A data, dia 05 de agosto de 1990, há exatos 29 anos. O propósito, uma ordenança amorosa e inegável que José não tem dúvidas em afirmar: "Foi Deus que me deu esse filho como uma missão".



Jucinei chegou na vida de José e a esposa, Carmen, num momento não muito fácil. O casal já tinha seis filhos, o mais novo com onze anos "Naquele momento os dois filhos mais velhos, Gilson e Rosemeri, já tinham saído de casa para fazer a vida em Curitiba. Os demais estavam crescendo, então já víamos uma outra fase da nossa vida, de que não demoraria muito para ficarmos só, apenas o casal", relata José.

Enfático, José reafirma: "Mas foi Deus que colocou o Jucinei na nossa vida". A história desse pai e desse filho começou em uma missa na comunidade de Taiozinho, em Rio do Campo, onde a família reside. Os primeiros detalhes são relatados pela esposa de José "Antes de começar a missa, minha mãe perguntou se nós não queríamos pegar um bebê para cuidar. A oferta inicial foi para cuidarmos dele, dar banho e alimento, até completar quatro meses, para ele ficar mais forte", conta Carmen.

Ao tomar conhecimento, José comentou com a esposa "Poxa, vamos ficar quatro meses com o bebê; e naquele momento ainda não tínhamos conhecimento da deficiência que o acometia; para depois devolver? Não vai dar certo, nós vamos ficar com saudades! Repliquei a ela", relata José.

Em princípio, o casal aceitou o desafio de ficar com o bebê apenas nos quatro meses, mas já nas primeiras horas entenderam que seria para a vida toda. Foi através da Pastoral da Saúde, com o auxílio da senhora Frida Petri (in memorian) que o bebê chegou na casa de José e Carmen, aos dois meses e cinco dias de vida. "Depois que minha mãe falou pra mim na missa e conversei com José, logo já falei para a Frida na Pastoral: olha, queremos pegar ele já", conta Carmen, que naquele período também fazia parte da Pastoral da Saúde.

A esposa de José se emociona ao relembrar o momento que viu o bebê pela primeira vez "Eu não estava em casa, minha filha foi quem pegou ele. Quando cheguei o vi em cima da minha cama. Parece que posso ver aquela imagem, aquele rostinho, era uma coisinha tão pequenina", menciona entre lágrimas, dona Carmen.

Os relatos do pai, José, ainda são mais emocionantes "Ele levou cinco dias para começar a chorar, pois já não tinha mais forças, apenas ouvíamos sua respiração ofegante, profunda. A cabecinha formava um só casco de feridas, assim como as tinha por todo o corpo. Além das deformações nas pernas e pés", descreve o pai.

Com poucos dias de cuidados da família, o bebê começou a revigorar "Com cinco dias ele já estava com o corpo limpo, não tinha mais feridas. Foram quinze dias de banhos com especiarias para tratar dos ferimentos", conta o casal.

Mas a parte mais difícil e delicada da vida do filho ainda estava por vir "Ao todo foram oito cirurgias. De zero até os oito anos foram as primeiras e aos doze foi feita a última para retirar algumas platinas que haviam sido colocadas. Mas sofreu muito, muito, muito essa criança", expressa o pai.

Há essa altura dos fatos o bebê que necessitava de cuidados especiais já havia se tornado a parte especial da família Lueckmann, seu nome: Jucinei José Lueckmann. "Os tratamentos dele eram feitos em Campo Alegre, a médica dele era de lá, e nas idas e vindas do hospital sempre passávamos na mãe biológica para mostrar ele. Era uma família muito simples, de poucas condições; e sempre pedíamos para ficar com ele para nós. Desta forma, como ela acompanhou os cuidados que tínhamos, ela o deixou conosco. No entanto, sempre falamos para ele sobre a mãe e também sempre levávamos ele para ver ela", conta José Lueckmann.

Mas somente após cinco anos é que o processo de adoção de Jucinei teve início "Cinco anos depois, fomos no juiz em Taió, no mesmo dia ele deu uma autorização de posse e guarda. A partir daí começou o processo de adoção que levou oito meses", explica o pai e acrescenta "Assim, no dia 18 de dezembro de 1995 fui a Taió para receber o diploma de suplente de vereador e o juiz me chamou à parte, sozinho, e falou: 'José, aceite meus parabéns; O Jucinei a partir de hoje é legalmente seu filho!' Falou aquele juiz para mim e ainda sugeriu que eu acrescentasse José no nome dele e assim ficou, Jucinei José Lueckmann, meu filho tanto quanto os outros seis".

A satisfação de José em relatar esses fatos é imensa "Uma graça especial também é o amor dos irmãos por Jucinei. Mesmo os que já não estavam mais em casa, nunca vieram nos visitar sem trazer um presente para o irmão. 'Todos pediam: Pai e mãe, nós queremos o Jucinei como nosso irmão legítimo'!", conta José.

Com muita experiência de vida e muita graça adquirida ao longo de sua caminhada cristã, José Lueckmann deixa um ensinamento sobre a paternidade "Não dá para ser um bom pai sem ser, antes, um bom filho. Se consegui ser um bom pai para os meus filhos, especialmente para o Jucinei, é porque fui, antes, um bom filho para os meus pais. Quando me casei e saí de casa para constituir família, ajoelhei-me diante de meus pais e pedi para eles me abençoarem, e acredito que isso foi muito importante para ser agraciado por Deus com minha família, esposa e filhos", revela José.

Um filho, antes, gerado por Deus, entregue a José para cuidado e proteção. "Nós dois, eu e minha esposa, não nos imaginamos, jamais, viver sem o Jucinei. Se não fosse a vida dele nós já estaríamos há mais de 20 anos sozinhos, só eu e a Carmem em casa", comenta o Lueckmann.

Pedro Luckmann, pai de José, teve uma atitude que ele sempre admirou e essa admiração influenciou o agricultor a desejar a adoção de Jucinei. "Meu pai tinha doze filhos e criou mais um a partir dos quatro aninhos de idade. Ele viu a necessidade da criança que estava abandonada dos pais e viajou de ônibus para buscar e criar. Então, sempre admirei essa atitude dele, que, mesmo com tantos filhos criou mais um", cita José.

Dialogar com o agricultor José Lueckmann e falar sobre a adoção de Jucinei é receber muita instrução e sabedoria "Tenho certeza que não recebemos o Jucinei sozinho em nossa casa há 29 anos atrás, Jesus chegou junto. Pois Jesus disse em sua Palavra, na Bíblia: 'Quem acolher um desses pequeninos em meu nome, a mim me recebereis'", expressa José.

Com as deficiências de Jucinei, José deu todo apoio e suporte ao menino, especialmente para que ele conseguisse caminhar. Foram vários tratamentos, muitas idas e vindas a hospitais, longos períodos de internação, para tanto a família sempre disponibilizou tempo e fez questão de arcar com os custos necessários. Mas para José, todo tempo dedicado e valores dispensados para a restauração do menino não foram gastos e sim investimentos "Investir na família, investir em vida é principalmente investir no reino de Deus, em valores eternos onde a traça e a ferrugem não consomem", garante o agricultor.

data-filename="retriever" style="width: 100%;">

Fotos. Jornal A Tribuna do Vale

"Tudo que fizemos por ele, retornou como uma alegria enorme. Nunca fez falta, nenhum valor que investimos na vida do Jucinei. Havia um propósito maior dele ter chego na nossa vida. Em cada avanço na saúde dele era uma vitória para nós e o nosso propósito era conseguir inserir ele na sociedade com dignidade. Queríamos ver ele correr, jogar bola... Se não fosse esse nosso propósito de lutar por ele, penso que Jucinei não viveria", conta José.

"Ele é meu companheiro", diz dona Carmem. "Se eu quero sair ele me leva onde preciso. Uma vez eu briguei com uma mulher por causa dele, ela o chamou de deficiente e pra nós ele não é deficiente, ele é uma pessoa normal. Porque o que ele sofreu, não é qualquer um que suportaria, ainda mais sendo criança. Então, ele é muito mais perfeito que muitos que têm o corpo perfeito, mas às vezes são pequenos de mente e de coração", exclama a mãe.

Dona Carmem complementa dizendo que mesmo com tudo que Jucinei passou sempre foi uma criança sorridente e feliz. "Muitas vezes cheio de dor, mas se alguém conversava com ele, principalmente os médicos e as enfermeiras no hospital, ele sorria".

Questionado, o que esse filho significa, senhor José, enfático, afirma: "Tudo! É difícil explicar o amor por esse filho. Amar os filhos é natural, é tão fácil. Mas amar um que não é do nosso sangue é muito mais prazeroso, grandioso".

 "Uma das coisas que admiro no Jucinei é o seu carisma", diz José. Já a mãe admira o amor e o zelo que o filho tem pela esposa, Cintia.

José, que é natural de Salete, está com 75 anos e reside em Rio do Campo desde 31 de agosto de 1974, há 45 anos. É casado com Carmen Lueckmann, de 70 anos. Carmen é natural de Lages. O casal sempre viveu da agricultura cultivando muitas variedades para o mantimento da família, no entanto as principais rendas vieram da mandioca e arroz.

Os sentimentos que envolvem Jucinei são orgulho e gratidão

O coração de Jucinei é cheio de orgulho pelo pai, José, e gratidão pela família. Conforme ele, o fato de ser adotivo nunca o afetou "Pelo contrário foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Foi uma honra para mim a família que recebi", afirma.

"Certamente hoje não poderia nem andar se não fosse o pai e a mãe que lutaram bastante para me proporcionar mais saúde", menciona Jucinei. O caso clinico de Jucinei era raro, possui deformações graves nas pernas e pés. A médica que acompanhou o menino, em Campo Alegre, desde bebê, fez várias pesquisas para obter avanços em sua recuperação.

O significado do pai, José Lueckmann, é quase inexplicável para Jucinei "Posso dizer que é Deus no céu e o meu pai aqui na terra, de tão grande e importante o significado que ele tem pra mim. Tudo o que ele fez por mim não tem explicação", afirma Jucinei.

Jucinei está com 29 anos e conta que sempre recebeu o mesmo tratamento que seus irmãos também receberam "O meu tratamento e dos meus irmãos nunca teve diferença nenhuma, muitas vezes me sinto até mais amado e valorizado, inclusive pelos meus irmãos também", revela.

As qualidades que Jucinei admira no pai formam uma lista "O que mais admiro no meu pai é a sinceridade, a honestidade, a bondade, pois ele é uma pessoa muito boa que ajuda a todos sempre que pode. Também o admiro por ser muito trabalhador, até hoje, mesmo com 75 anos continua trabalhador, o que pode fazer, ele faz".

Entre os bons exemplos dados pelo pai, Jucinei guarda alguns que procura levar para a vida toda "A sinceridade, a honestidade e especialmente sempre procurar fazer a coisa certa para ter um caminho certo. O pai sempre fez as coisas certas e sempre funcionou e isso ele sempre passa para nós, para todos os filhos", menciona.

"Tenho muito amor, gratidão e orgulho. Tudo que meu pai fez por mim, junto com a mãe, não existem palavras que possam expressar, mas sei que Deus os recompensa e recompensará sempre", finaliza Jucinei José Lueckmann.

Jucinei reside próximo à residência da família, na comunidade de Taiozinho. Vive com sua esposa, Cintia, de 21 anos. E, por enquanto, completam a alegria da casa a cachorrinha Chiquinha e a gatinha minei.


style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Fotos. Jornal A Tribuna do Vale

Carta de gratidão aos pais, escrita por Jucinei

"Muito obrigado pai e mãe por tudo que fizeram por mim. Que Deus abençoe vocês, sempre. Não existe dinheiro no mundo que pague o que vocês fizeram por mim. Somente digo: Muito Obrigado!

Sei que valeu a pena pra vocês me verem andando. Tantas lutas, tantos sobe e desce de escadas de hospitais e cada passo que eu dei foi uma vitória para mim e para vocês.

São 29 anos vivendo e aprendendo amar e respeitar as pessoas. Pais iguais a vocês é difícil encontrar. Muito obrigado por toda educação e respeito, isso vou levar para minha vida inteira. Obrigada pela nossa família, pelos meus irmãos e pelas minhas irmãs.

Amo vocês, com muito orgulho!"

Jornal A Tribuna do Vale


Anterior

Plantas Medicinais

Próximo

Curso de Olericultura Orgânica em Rio do Campo

Deixe seu comentário