
Alto Vale
JATV -
Com a estratégia de trabalhar de forma efetiva no tratamento preventivo de doenças e problemas de saúde em geral, Cuba conseguiu reduzir a taxa de mortalidade, elevar a estimativa de vida e melhorar qualidade de vida da população. Em Cuba, não existe medicina privada e os serviços de saúde devem ser acessíveis a todos e desenvolvidos com a participação ativa da sociedade civil organizada.
O Sistema Nacional de Saúde em Cuba é um conjunto de unidades administrativas de produção e de serviços responsabilizados com atenção integral da Saúde de toda população, divididos em nível central, nacional e provincial.
O sistema dispõe de serviços ambulatoriais, de emergência, assistência social para idosos e deficientes, educação sanitária e de saúde e higiene, produção de medicamentos, especialização profissional e acadêmica, acompanhamento de dados e planejamento estratégico.
A atenção médica é dada, principalmente, para atividades e procedimentos que promovem a garantia da saúde de toda a população, com apoio especial à família. Só depois que são priorizadas as atividades de atendimento aos pacientes, com diferentes tipos de hospitais e internações. A atenção médica dada a institutos de cardiologia, neurologia e endocrinologia são estabelecidos num nível terciário de atendimento.
O programa de assistência à família busca concretizar a priorização da garantia à saúde, com o desenvolvimento das gestões preventivo-curativo e habilitatórias. As equipes responsáveis pelo Programa são formadas por médicos e enfermeiros, cada equipe mora na área de atuação e é responsável por, no máximo, 250 famílias, de forma a permitir maior relacionamento entre a equipe e a comunidade por ela atendida. Entre as atividades da equipe estão: promoção da saúde e prevenção, atenção medida e reabilitação, educação de higiene e atividades sociais, pesquisa e controle, promoção de hábitos de saúde (esporte e alimentação, principalmente de idosos e gestantes).
Fonte: cidadessustentaveis.org.br
Há três anos, Rio do Campo conta com atendimento médico na atenção básica feito por profissionais cubanos. Os médicos em missão no município fazem parte do programa 'Mais Médicos', do Governo Federal.
O Jornal A Tribuna do Vale conversou com as duas médicas que atendem o município atualmente.
Dra. Yeni, foi a última a chegar em Rio do Campo. Atualmente já se comunica bem em português com os pacientes. Ela defende as mesmas virtudes de Vivian e fala muito sobre a importância da prevenção.
JATV: Como você se sente hoje, trabalhando longe de seu país de origem, se dedicando a um município que já teve muitas dificuldades em atendimento médico?
Yeni: Agora estou me sentindo muito melhor. Quando comecei a trabalhar no Brasil, que é um país que tem costumes diferentes com relação ao meu país, a forma de atendimento médico é diferente de Cuba. No começo estava preocupada, nervosa, pois a nossa forma de atendimento é diferente, pode-se dizer assim. Mas agora me sentindo muito melhor, estou notando que a população está tendo um pouco menos de preconceito do que quando cheguei aqui.
Quando cheguei não sei se achavam que não entenderiam o que eu ia falar, ou que o tratamento que os receitava não era certo. E acontecia algumas coisas que me deixavam preocupada e de certa forma triste. Mas agora está melhor, estou trabalhando sossegada, tranquila e tendo um pouco mais de confiança. Noto que esse preconceito está diminuindo. Estou fazendo o trabalho que vim realizar no Brasil, vim trabalhar.
JATV: Ao conhecer pessoalmente a medicina brasileira, qual foi a principal diferença que você notou?
Yeni: Sim, a diferença é notável. Os médicos Cubanos e a medicina Cubana, de forma geral, é uma medicina baseada no preventivo. Já a medicina brasileira é mais curativa. Lá fazemos a medicina preventiva, a promoção e prevenção de saúde. Mas aqui acho que isso falta, fazer um pouco mais de promoção de saúde, prevenção de doenças de forma geral.
JATV: Você acredita que é realmente importante pensar na doença antes dela acontecer do que depois?
Yeni: Sim. É melhor prevenir. Tem muitas doenças que podem ser prevenidas por ações simples. Como ferver a água pode prevenir uma parasitose nas crianças, por exemplo. Exercícios físicos básicos e sistemáticos e uma alimentação saudável pode prevenir uma hipertensão arterial. É necessário fazer palestras em escolas para prevenir doenças. Aqui no sul do país não tem aquelas doenças como Zika e Dengue, mas também são doenças preveníveis.
JATV: Você acredita que falta conscientização das pessoas de se prevenirem com questões simples?
Yeni: Sim, as pessoas, de forma geral, não tem essa consciência. Quando estou dando um atendimento, sempre pergunto se tomam água fervida e as pessoas dizem que não, que tomam a água da torneira normal. Então, para prevenir doenças é só tomar algumas dicas dos médicos e as dicas que passam na TV também. Não é necessário comprar algo muito custoso ou algo do tipo. Pode ser feito em casa mesmo, tomando medidas preventivas e adotando bons hábitos.
JATV: Você procura adotar a medicina preventiva aqui no Brasil também?
Yeni: Em minhas consultas, após dar o diagnóstico, procuro dar dicas, falar de alimentação, sobre a água, tento falar disso. Há pessoas na casa dos 30 anos com triglicerídeos muito altos porque comem muita gordura, tomam muito refrigerante, comem alimentos pouco saudáveis, ao invés de comer mais verduras, alimentos saudáveis e pouca gordura. Coisas que estamos tentando mudar na alimentação do povo riocampense. Mas apenas uma pessoa fazendo isso não dá, é preciso de um envolvimento de outros médicos, da equipe de saúde de forma geral, pois uma pessoa sozinha não consegue fazer.
Na Unidade de Taiozinho, conversamos com a Dra. Vivian, que deve se despedir de Rio do Campo, ainda no primeiro semestre deste ano, quando termina seu contrato de três anos.
JATV: Como você se sente hoje, trabalhando longe de seu país de origem, se dedicando a um município que já teve muitas dificuldades em atendimento médico?
Vivian: Para mim, a minha missão acabou. Não sei se para a população foi bom, regular ou ruim. Nunca escutei um elogio, poucas pessoas fizeram isso, alguns se sentem agradecidos, para outros é normal, vem e vão para casa. Não sei os comentários fora do consultório. Mas para mim acabou, estou feliz porque vou voltar para meu país, com minha família.
Foram três anos de experiência. Uma experiência triste para mim. Eu trabalhei na Venezuela, onde foi muito diferente daqui. Aqui temos essa liberdade de ser o que você quiser e fazer o que quiser, mas ainda sim me sinto sozinha. Já fiquei doente por algumas vezes, e nem mesmo os colegas de trabalho perceberam, não perguntavam como eu me sentia, nem nada. São coisas que doem às vezes.
Quando a Liudes [Primeira médica cubana a chegar em Rio do Campo] estava aqui, cuidávamos uma da outra, éramos parceiras. Quando eu estava doente, ela cuidava de mim, quando ela estava doente eu cuidava dela, assim éramos como uma família. Mas graças a Deus está acabando.
Como trabalho eu me sinto realizada. Primeiro porque aprendi mais uma língua. Eu já falava inglês e espanhol, agora falo português também. Ainda é 'portunhol', mas dá para entender. Foi uma experiência regular, nem boa nem totalmente ruim.
JATV: Você sente ou já sentiu algum tipo de preconceito por parte dos pacientes, em Rio do Campo?
Vivian: Mesmo já com três anos, ainda há preconceito. No início era mais, pelo menos com a Liudes e eu que fomos as primeiras a chegar aqui no Brasil, nossa preparação foi muito mais ampla. Ainda assim chegamos e os pacientes diziam que não queriam ser atendidos pelas médicas, pois queriam ser atendidos pelos médicos daqui. Mas isso para mim não era problema, pois entendia que os pacientes eram acostumados com os outros médicos. Sempre entendi, pois os médicos que moram aqui sempre serão os médicos cabeças. Mas há sim muito preconceito.
JATV: Ao conhecer pessoalmente a medicina brasileira, qual foi a principal diferença que você notou?
Vivian: Bastante diferença. Converso com meus colegas de outros municípios, de outros estados, a medicina brasileira é de alto custo, tudo tem que ser pago, e tem muita gente que não tem dinheiro, que tem pouca renda, então trabalham muito para conseguir uma consulta ou um exame que verdadeiramente precisa.
É muito difícil ver isso. Os remédios necessários são muito caros. Em meu país isso não acontece. A medicina aqui é baseada no dinheiro. Muitas pessoas chegaram a chorar no consultório.
Para mim, uma consulta não é apenas perguntar o nome e saber o que a pessoa quer, acredito que tem que conhecer melhor a pessoa, tem que conversar, checar a fundo o que a pessoa tem. O médico não deve apenas ser médico. Deve ser médico e amigo. Conhecer melhor tudo. É aí onde vejo a diferença dos médicos brasileiros a outros médicos. Não digo especificamente médicos cubanos. Pode ser médico brasileiro formado em outro país, por exemplo.
Tive a experiência de conhecer uma médica brasileira que se formou em Cuba, e quando ela me viu ela chorou. Me falou que estava muito agradecida de ter estudado em Cuba, de conhecer, ela se chama Fernanda e está trabalhando em Criciúma.
JATV: No seu modo de ver, a medicina cubana é mais voltada para prevenir doenças?
Vivian: Sim, tratamento só se precisar. Você conversa com o paciente e ele entende que precisa tomar mesmo só o necessário, não um monte de remédios para acabar tendo uma insuficiência renal depois de alguns anos, porque tomou muitos remédios. Todos os remédios têm suas reações a curto ou longo prazo.
JATV: Na sua visão, o que envolve prevenir doenças?
Vivian: Como aqui no consultório são muitas consultas, não dá tempo para dizer ao paciente, por exemplo, para usar um anticoncepcional para evitar uma gravidez, usar preservativo para evitar DST's. Então o principal é a educação e a prevenção. Mas depois que tem a doença, cada um deve conhecer a doença, saber o que deve ou o que não deve fazer. Assim teríamos menos quantidade de consultas, porque o hipertenso que sempre estava descompensado, não estará aqui o tempo todo. Virá a cada seis meses renovar o seu receituário, ou uma vez por ano fazer o seu check-up. Seriam menos pacientes. Aquela que tomar o anticoncepcional, que não fica grávida, evita problemas econômicos. Para evitar diarreias deveriam ferver a água, tomar um antiparasitário uma vez por ano, lavar bem as mãos. Então é necessária educação mesmo, mas o tempo não permite.
JATV: O que é feito quando as unidades de saúde em Cuba estão cheias?
Vivian: Nunca está cheio. Pois é obrigatório fazer palestras nas comunidades. Por exemplo, aqui, no dia 22 haverá uma reunião de receitas controladas de hipertensos e diabéticos. Na reunião teremos hipertensos e diabéticos, pessoas que tomam remédio para depressão, então você prepara uma palestra boa que fale de tudo. Por exemplo agora é uma época de chuva, então falaremos de Dengue, Zika e Chikungunha, como evitar essas doenças, o que se deve fazer nas casas.
No dia 1 de março teremos palestra no Taiozinho sobre diarreias, parasitismo. Então as pessoas vão conhecendo as doenças. As pessoas chegam aqui já sabendo sobre sua doença, sabendo o que podem e o que não podem fazer. Assim evita uma complicação.
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