
Professores de SC
Uma vida dedicada ao esporte. Assim pode-se resumir os quase sessenta anos da vida de Kardeke Ramos. Na adolescência, um jogador de futebol com muita habilidade. Na vida adulta, um grande Secretário de Esportes e promotor de eventos esportivos. O Jornal A Tribuna do Vale foi até o Ginásio Dorotávio Rosa de Rio do Campo, a "segunda casa" de Kardeke, para falar um pouco sobre os mais de trinta anos dedicados ao esporte da cidade e região. Ramos que já foi apresentador do JATV Esporte e colunista do Jornal A Tribuna do Vale, tem uma grande história no esporte amador. Com a impossibilidade de destacar as décadas de luta, o Secretário de Esportes destacou algumas das suas ações. Essas e as demais histórias, deverão ser lançadas em breve em um documentário e também em um livro que vem sendo elaborado nos últimos anos.
Sujeito simples e de bom coração, ajudou a sua família desde os doze anos. Com a vocação de organizar e promover eventos esportivos, abandonou as chuteiras e adotou o sapato, do qual gastou muita sola para correr atrás de recursos que viabilizassem suas ideias. Tudo começou na Unidas Veículos de Rio do Sul onde trabalhava. A empresa montou uma equipe com os seus colaboradores e Kardeke, ainda menor de idade, jogava e dirigia o clube. Depois disso, passou um tempo no Exército, largando um pouco da atividade esportiva.
Corria o ano de 1981, quando veio visitar seus pais na cidade de Rio do Campo. Por coincidência, acontecia o 1º Campeonato Municipal de Futebol na cidade. Kardeke foi convidado para jogar na equipe da Serrinha, comandada pelo prefeito da época. Apesar de ter sido convidado várias vezes, após um pouco de resistência, mudou-se para a cidade em 1986, município no qual constituiu família e uma grande leva de amigos. "Já no mesmo ano, montamos uma Escolinha de Futebol junto com o Maneca, no Cruzeiro da Serra. Compramos uma bomba e três bolas e começamos a dar aula de futebol. Na época, em Rio do Campo, não tinha nada disso. Fazíamos no final do dia ou nos finais de semana de forma gratuita", lembra Ramos.
Eis que surge o momento em que Kardeke quase precisou fazer mudança e voltar para Rio do Sul. A Unidas Veículos lhe convidou para retornar à empresa. Ao saber disso, lideranças se movimentaram e pediram para que ele ficasse na cidade. No dia 02 de fevereiro de 1987, finalmente teve a carteira assinada na Prefeitura de Rio do Campo e poderia fazer o que mais gostava: trabalhar no esporte. Porém, apesar de ter a CME, a estrutura era praticamente nula no setor esportivo. "Por mais de dez anos, fui um 'quebra-galho'. Trabalhava fazendo identidade, título de eleitor, Incra e ajudava até na contabilidade e nas licitações. Sobrava tempo nos finais de semana para fazer esporte. Ter uma pessoa só para o esporte era uma loucura na época", revela o Secretário.
Em seus 33 anos de empenho, precisava provar ano a ano a sua importância. Pois alguns prefeitos que entravam o deixavam no "banco de reservas". Porém, em poucos meses, "davam a camisa 10" e até a braçadeira de capitão para que Kardeke voltasse a comandar o esporte da cidade. Mas o preço que se paga por tanto empenho é a falta de tempo para outras essencialidades. "Por ter tanta dedicação, fui indicado para trabalhar no esporte por todos os prefeitos. Posso dizer que não vi meus três primeiros filhos crescerem, pois trabalhei sem parar. Se eles quisessem falar comigo, iam no ginásio de esportes. Tem uma foto do meu filho do meio, ainda pequeno, agarrado no cinto da minha calça e me acompanhando. Eles sempre entenderam que a minha profissão é como a de um jogador, não tem hora para nada", recorda Kardeke.
Inovar durante três décadas não é fácil, mas é o que o comandante do esporte riocampense buscou ano após ano. Seja com torneios regionais, com escolinha do Figueirense, do Atlético de Ibirama, passando pelos campeonatos de bocha e chegando até as Olimbairros e Torneio de Família. Apesar de tanta dedicação, a aposentadoria chegou. Além disso, com a mudança no comando na Prefeitura, os dias/ano/décadas de Kardeke frente ao esporte podem ter chegado ao fim. Questionado sobre o seu futuro, Ramos responde: "Não sei o que vai acontecer. Só sei que não vai ser fácil viver esse 'luto' do esporte. Vai ser complicado porque isso aqui é a minha vida", afirma Kardeke, sem conseguir segurar a emoção e as lágrimas.
De qualquer forma, Kardeke coloca sua experiência à disposição dos futuros governantes. "Quero continuar trabalhando com esporte. Não com essa responsabilidade que tenho hoje. A ideia era criar uma Liga ou trabalhar em rádio, jornal ou TV falando sobre esporte. É disso que entendo e é isso que sei fazer. Eu entendo qual é a melhor bola de futebol e de vôlei para jogar. Sei qual é a melhor chuteira para calçar. É impossível que com mais de trinta anos de profissão, eu não entenda algo sobre tática de jogo. Futsal, nem se fala. Estudei, fiz faculdade e fiz curso com os melhores treinadores do Brasil. Quando eu ensino a garotada, é com toda essa experiência. Não sei quem vai entrar no setor agora, mas não aproveitar isso de mim e não me inserir para pelo menos dizer como funciona seria uma idiotice. Sou criticado por alguns, erro e sei que não acertei a vida inteira. Acho que deveriam sentar comigo para termos uma conversa longa e entenderem o que é o mais importante nesse setor e o que leva alguém a ficar tantos anos aqui", diz ele.
Kardeke criou um memorial do esporte de Rio do Campo
Um dos grandes feitos dos últimos anos foi o memorial feito no Ginásio Dorotávio Rosa. Quem entra no recinto, se depara primeiramente com os troféus conquistados pela CME de Rio do Campo. Algumas medalhas também estão expostas, mostrando a força e o espírito vitorioso do esporte riocampense. Porém, chama a atenção também as fotos no hall de entrada. As lembranças ainda estão sendo confeccionadas, porém, dezenas de fotos já estão expostas e mostram os finalistas, e consequentemente, os campeões dos torneios disputados em Rio do Campo desde o final da década de 80. "Sempre fiz fotos dos campeonatos. Ainda tem muita coisa guardada. Quem chega para disputar um campeonato no ginásio pode ver esse memorial com tantas lembranças. Sempre quis um bolsista para me ajudar, mas quem sabe da história sou eu. Tenho documentos desde 1981. Tenho a ideia de fazer um livro, pois está tudo catalogado. Nunca deu tempo de se dedicar a esse memorial. Para se ter uma ideia, no ano passado organizamos sete campeonatos. Chegou a pandemia, em 2020, aí me sentei com o prefeito e falei que faria o memorial. Estou desde março fazendo isso. Todos os dias chego no ginásio, vou catalogando as fotos e organizando os documentos. Achei que daria conta de fazer tudo até o fim do ano, mas vai ficar alguma coisa para trás", conta Kardeke.
A vitrine dos troféus também é algo que enche Kardeke de orgulho e alegria. Em 2019, o município disputou cinco torneios fora da cidade e trouxe quatro taças 'para a casa'. Uma das maiores alegrias, com chances reais de ser a maior nessa longa carreira de Kardeke, foi ter conduzido a equipe de Rio do Campo a ser a campeã dos Joguinhos Abertos Regionais promovidos pela Fesporte, disputados na cidade de Videira, em 1996. "Para mim é como se tivéssemos vencido as Olimpíadas. Para um município do tamanho do nosso, sermos campeões dos Joguinhos é uma proeza muito grande. Depois desse, vieram mais dois troféus de campeão", lembra o Secretário.
Sujeito simples e de bom coração
Apesar de ter sido "jogado para escanteio" no início de algumas administrações, Kardeke garante que não guarda mágoa de nenhuma pessoa que tenha passado por sua vida. "Momentos bons eu poderia contar vários. Mas tristes, se passei, não lembro. Não guardo essas coisas. Agora, ser campeão em Videira e em Presidente Getúlio com 27 municípios participando foram alegrias imensas. As competições municipais também. Nunca fui de aparecer, pode ver nas fotos das aberturas dos torneios. Sempre 'empurro' os políticos para frente. Se apareço, estou sempre meio escondido. Mas quando eu fazia o uso da palavra, falava para os times participantes que para mim não é o Campeonato Brasileiro o melhor do mundo. Para mim é esse que está começando agora. O nosso campeonato que é o melhor. É esse que gosto de fazer. A emoção de um gol ou de um título do profissional ou do amador é a mesma. Aqui só não se ganha o dinheiro que os profissionais ganham. Mas o restante é tudo o mesmo. A última edição da Olimbairros também foi histórica. O importante é ser feliz 'se agarrando' em Deus e na espiritualidade e estar em paz. Eu estou em paz. Mas não posso ser hipócrita e dizer que não vou sentir falta disso tudo. Se a semana tem sete dias, seis dias e meio eu estou no ginásio com muito afinco. Treinei muitas crianças no passado e hoje dou treino até para os netos deles. Espero que quem já passou por aqui ore por mim e tenha pensamento positivo. Eu também continuarei com pensamento positivo pelo esporte da nossa cidade. Se quiserem, estarei à disposição para trabalhar também", cita Kardeke.
Palavras finais
Por fim, Kardeke deixou seu recado para os governantes estaduais e para os futuros governantes municipais. Aos estaduais, Kardeke pediu mais recursos para o esporte da cidade, pois os campeonatos são feitos sempre com recursos do município. Ramos pede para que agilizem a adaptação dos campeonatos amadores ao Coronavírus, pois caso não tenha a devida adaptação, é possível que demore muito tempo para os que não são profissionais, possam voltar a disputar algum campeonato. Pede também que o Estado disponibilize um programa para que os municípios possam investir tanto na base quanto em infraestrutura, tendo que prestar contas periodicamente sobre o dinheiro investido.
Já, aos futuros gestores de Rio do Campo, Kardeke deu o seguinte recado: "Espero que façam um grande trabalho no esporte. Não tenho que ter 'sombra', nada disso. O próximo responsável tem que chegar no setor e trabalhar. O segredo é esse. Com críticas ou sem críticas, com dinheiro ou sem dinheiro, quando 'mete a cara' tem que ir até o fim. Quantas vezes os prefeitos diziam que não tinha dinheiro para fazer campeonato e fizemos do mesmo jeito. Eu começo, e termino. Foi assim sempre. Que o pessoal chegue e trabalhe. Se precisar da minha ajuda, estamos aí. Estou disposto a ajudar e mostrar o caminho mais curto e o melhor jeito de fazer, segundo a minha experiência, se assim quiserem", finaliza Kardeke.
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