O ano foi marcado por um inverno mais extenso em Santa Catarina, com neve atípica em novembro no Planalto Sul, assim como geada nos campos da Serra. Enquanto, no início de 2022, o calor e ar abafado não deram trégua, com temperaturas típicas de verão, o primeiro frio de outono chegou cedo, já no mês de abril. Em maio, ciclones extratropicais atingiram o estado e provocaram estragos nas plantações. Essas características climáticas, assim como o excesso de chuvas registrado no mês de outubro, com volumes significativos em praticamente toda a região Sul do país, impactaram as safras catarinenses, com culturas em fases finais e a implantação da safra de verão. Cada espécie vegetal possui um ciclo próprio, que depende das condições climáticas, principalmente da temperatura e umidade relativa.
"Tivemos o primeiro trimestre com chuva abaixo do normal, com destaque para fevereiro. O mês de março foi bem melhor, até ficando boa parte do estado com chuva acima do padrão do mês, sobretudo no Oeste. Nos três meses seguintes, com exceção de abril no Leste, que teve chuva abaixo do normal, tivemos um período com volumes acima. Choveu muito pouco de julho e recuperou em agosto, ficando setembro com novo déficit em grande parte do estado com destaque para Oeste, Serra e Sul", detalha o meteorologista Leandro Puchalski.
Para a cultura de verão da safra 2021/2022, no início do ano, ainda afetado pela estiagem, a falta de chuvas prejudicou o desenvolvimento da soja e do milho, com diminuição na produtividade em todo o sul do país, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Para o trigo, a situação causou o aumento do preço médio, que ainda não foi compatível com a elevação dos custos de produção. Ainda de acordo com a CNA, a falta de chuvas afetou também a disponibilidade de água em reservatórios para a cultura do arroz, tendo apontado problemas no município de Tubarão (SC).
Por outro lado, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), as chuvas excessivas de setembro e outubro vêm comprometendo a agricultura no Estado. A entidade aponta que, desde o ano de 2014, o estado não registrava tantos dias chuvosos como nos meses de setembro e outubro deste ano.
Além de atrapalhar o desenvolvimento de algumas culturas, as chuvas atrasaram o plantio de outras, como milho e da soja. No caso da lavoura do milho, o clima chuvoso e poucos dias de sol afetaram a germinação e há preocupação sobre uma possível quebra de safra.
No caso do trigo, a umidade aumenta a probabilidade de ocorrência de pragas e doenças, como a Giberela, causada por fungo, que não era registrada em Santa Catarina há tempos, mas neste ano deve prejudicar a lavoura do trigo. Custos de plantio altos e prejuízos também afetaram o gado de leite, que requer pastagens, além dos hortigranjeiros, que sofreram com o alagamento das lavouras.
O que indicam as projeções da Conab
Segundo relatório de novembro do Boletim de Safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa da safra de arroz 2022/2023 no estado aponta para estabilidade da área e leve retração da produtividade. Pelo menos 92% da área estimada de arroz para o estado já foi semeada e 99,17% estão em boas condições. Para o feijão comum preto, a estimativa é de diminuição na área plantada. As operações de semeadura tiveram início nas regiões mais quentes e de menor altitude. Porém, com estimativa da janela de plantio até dezembro, ainda há receio sobre as temperaturas ainda baixas e da perspectiva de possíveis frentes frias, tendo em vista que a cultura é muito sensível às baixas temperaturas.
Para o milho primeira safra, a cultura teve problemas devido às constantes chuvas na primeira quinzena de outubro e algumas áreas precisaram ser semeadas novamente. As temperaturas ainda mais baixas limitam o crescimento das plantas e favorecem a germinação de azevém, que compete com a cultura do milho por nutrientes. Com essa situação, alguns produtores precisaram destinar herbicidas específicos para evitar uma infestação nas suas lavouras.
Em relação à soja, os produtores realizaram o plantio de 25% da área prevista, mas as chuvas e as baixas temperaturas retardaram a germinação e desenvolvimento inicial das lavouras.
Na cultura do trigo, as estimativas da Conab projetam alta de 40% na safra deste ano, mas as geadas tardias, chuvas intensas e falta de luminosidade são fatores que podem comprometer a produtividade e a qualidade do grão, conforme apontou relatório.
No entanto, a melhoria das condições climáticas vem favorecendo as lavouras de cevada na região, mesmo que a situação anterior possa ter afetado a qualidade de algumas propriedades, principalmente as que estavam em floração. Como a fase ainda é de granação, a Conab espera a manutenção do potencial produtivo se a situação se mantiver desta maneira.
Via G1
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