Confira a linda história de vida da pequena guerreira
De 21 a 28 de agosto é celebrada a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. Instituída em 1964, com o nome de Semana Nacional da Criança Excepcional, foi pensada para elucidar a condição dessas pessoas de forma a contribuir para a desconstrução de preconceitos, divulgar quais são as necessidades destas pessoas, cada uma com sua excepcionalidade e colocar a sociedade em reflexão no dever da igualdade para inclusão.
Para celebrar essa tão importante data, a equipe de reportagens do Jornal A Tribuna do Vale foi até a cidade de Salete, mais precisamente na residência da família Hellmann. A história da pequena Marcia Cecília você conhecerá nas próximas linhas. Porém, é importante destacar as primeiras impressões ao chegar na residência. Ao chegarmos, fomos recebidos com carinho, abraço, simpatia e brincadeiras por parte da pequena. Encantadora, a menina chama a atenção por sua alegria constante. Acabou o seu café da manhã e veio mostrar sua cestinha de brinquedo e um desenho maravilhoso que ela coloriu.
Filha de Marcio Hellmann e Micheli Esser Hellmann, a pequena Maria tem apenas quatro anos, mas já passou por muita coisa. Os pais contam que a gravidez foi bastante complicada. Inclusive, no início, um médico disse que a criança havia sido abortada. Com as palavras o casal saiu cabisbaixo do consultório. Porém, dois meses depois da notícia, voltaram ao local após Micheli se queixar de dores. E, em um novo exame de ultrassom feito, foi descoberto que a pequena Maria estava mais viva do que nunca, para alegria do casal. Porém, no exame morfológico, houve indícios de que o bebê teria algumas dificuldades ao nascer. O médico afirmou que havia grande chance de ter complicações após o parto e que precisaria de UTI logo após o nascimento. Mais um baque: ela nasceria com Síndrome de Down.
De início, Micheli e Márcio ficaram apreensivos com a notícia, pois não sabiam como lidar com uma criança especial. "Todos os pais esperam que a criança nasça sem as necessidades especiais. Na hora é uma surpresa, um choque. Superamos rapidamente, pois temos outros casos na família. Mas quando é filho da gente, temos uma reação diferente. Não sabíamos exatamente quais seriam as dificuldades dela, se seria completamente dependente ou não", disse a mãe.
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Gestação e crescimento
Desde o princípio da descoberta, Marcio e Micheli evitaram falar que a criança teria algum tipo de necessidade especial. Exames, consultas e muitas batalhas precisaram ser feitas durante a gestação. Apesar de alguns profissionais recomendarem a interrupção da gravidez, o casal que é muito apegado a fé, em nenhum momento cogitou aceitar essa recomendação.
"No começo foi bem difícil. Procuramos alguns médicos. Alguns diziam que ela morreria logo após o parto. Mas sempre tivemos fé em Deus e acreditamos em todos os momentos que daria certo. Continuamos levando-a em médicos de Rio do Sul e Florianópolis, pois ela também sofre com algumas convulsões. Temos também o apoio dos profissionais do hospital aqui de Salete. Ela vem melhorando a cada dia. Isso mostra que essa luta que tivemos, valeu a pena", diz o pai.
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Avanços significativos da Maria
De início, por ter problemas na locomoção, muitos diziam que ela não andaria. Na nossa visita à casa da pequena, vimos a alegria nos olhos dos pais a cada passinho dado por ela. Algumas quedas ainda são registradas, pois está na fase inicial da caminhada. Porém, já se mostra uma guerreira também nesse quesito.
"Alguns falaram que ela não andaria e nem falaria. Sou profissional de educação física e também sempre levamos em especialistas, como fonoaudióloga e fisioterapeuta. E fazemos os exercícios em casa, diariamente. Agora que completou quatro anos, começou a caminhar sozinha. Ainda tem um pouco de falta de equilíbrio, mas ela já caminha bem. Adaptamos toda a nossa casa. Minha esposa trabalhou na Apae e tem uma irmã especial. Tudo isso nos ajudou. Essas experiências contribuíram muito. Achamos que ela será uma pessoa absolutamente normal que poderá inclusive ter uma família", conta o pai, orgulhoso, que vê a evolução diária da Maria Cecília.
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Importância da Apae
Apesar de não estar em pleno funcionamento, a Apae de Salete abre suas portas para ajudar no tratamento dos alunos e segue sendo fundamental na vida de Maria Cecilia Hellmann. Tendo a experiência como professora na instituição, Micheli ressalta o trabalho da Apae e afirma que os profissionais que lá atuam, podem dar atenção especial a cada um dos alunos, algo que talvez não seja possível nas escolas.
"Uma criança que não consegue falar, ali na Apae consegue se manifestar. Ela se sente mais à vontade estando junto de crianças com a mesma ou com outras necessidades", diz a mãe. Já Marcio, afirma que a Apae é um complemento das atividades que os pais fazem em casa. "Muitos não querem que seus filhos vão para a Apae, pois acham feio. Isso não tem nada a ver. A Apae ajuda muito. É um local preparado e especializado para atender as dificuldades, sejam elas grandes ou pequenas. Nada contra a escola regular, mas a Apae é preparada para atender as crianças com necessidades especiais", afirma Hellmann.
A Apae de Salete dispõe de duas fisioterapeutas, ambas amadas por Maria Cecilia. "A Suzi trabalha com a pequena desde o início. E Tati, recentemente também tem lhe ajudado muito", diz a mãe. Já a fonoaudióloga passa todo o trabalho para os pais continuarem em casa, para que a Maria fale cada vez melhor.
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Momento mais difícil
Para o pai, ouvir dos médicos de que o parto teria que ser antecipado ou interrompido foi o momento mais complicado. Marcio conta que o casal chegava em casa e não conseguiam esconder a tristeza com essa possibilidade dada pelos médicos. "Eu acordava de madrugada e via a minha esposa chorando. Era terrível", lembra o pai.
"Não adianta levar a gravidez até o final". Essa foi a frase de um dos médicos que mais doeu para a mãe. Micheli conta que ia para casa totalmente abalada, sem saber se no dia seguinte, ainda poderia sonhar com o nascimento da Maria Cecília. "Além de Deus e nossos familiares, sou muito grata ao Dr. Diego que sempre nos tranquilizou e disse que daria tudo certo até a trigésima sétima semana, quando minha filha nasceu".
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Lição de vida com a Maria
Além de Maria, o casal também tem outra filha, a Heloíse, de oito anos, que é completamente compreensiva com a atenção que a caçula precisa ter. Isso tranquiliza muito os genitores, pois o amor pelas duas é igual. Porém, uma precisa de mais atenção do que a outra.
"Como ela sempre teve problema de caminhar, saímos pouco. Mas quando saíamos, levávamos ela o tempo todo no colo. Talvez essas dificuldades nos fizeram nos prender ainda mais a ela. Ela é especial. Cada evolução é comemorada pela gente. Fazemos questão de mostrar para a família e para os amigos cada vitória", conta Marcio.
"Nós crescemos como seres humanos. Mas a Heloíse, nossa outra filha, parece uma adulta com oito anos. No início foi difícil para ela, pois eu saia muito em virtude dos exames e consultas. Mas ela lida muito bem com isso. E cuida muito da Maria. Quando a Maria cai, ela sempre tá no lado e evita a queda. É incrível. A Maria nos fez crescer como família. Algumas vezes, um precisava dar o ombro para o outro chorar. Ficamos mais unidos. E como pessoas, vemos o mundo e a vida com outro sentido", diz Micheli.
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Recado aos pais com filhos especiais
"Não desistir e superar. Cada mínima coisa que faz, é muito para a criança. O simples mexer dos dedos já começa a ser um grande avanço. Deus não dá a cruz mais pesada do que a gente consiga carregar. Deus escolhe a dedo pais especiais para ter filhos com necessidades especiais. É assim que nós nos sentimos", diz a mãe.
"Primeiramente tem que aceitar. Tem a Apae e o segundo professor das escolas regulares que ajudam. Não deve esconder nada do filho e jamais negar essas ajudas. Encarando os problemas de frente, a gente vê que ama cada vez mais uma criança especial. É algo que Deus nos deu. Nos sentimos especiais por ter ela em nossas vidas", finaliza, emocionado, o pai.
Pessoas especiais cruzam o nosso caminho de várias formas. Prova disso, é a Maria Cecília Hellmann. Às vezes, não reconhecemos o quão especial elas são. Mas mudam a nossa vida, e cada sorriso dessas pessoas, vale uma fortuna.
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