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Em conversas gravadas, Jucá fala em pacto para deter Lava Jato
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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil -
Em março deste ano, o atual ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-PR) sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato, que investiga ambos. As informações são da Folha de S. Paulo. O ministro já declarou que, mesmo em meio às denúncias, não renuncia.
Os diálogos entre Jucá e Machado, gravados de forma oculta, aconteceram semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. São 1h15min de conversas que estão em poder da Procuradoria-Geral da República.
Machado teria procurado líderes do PMDB para tentar evitar as apurações contra ele fossem enviadas de Brasília, onde tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), para a vara do juiz Sergio Moro, em Curitiba (PR), diz o jornal paulista -- o que incentivaria uma delação com o objetivo de incriminar peemedebistas, acreditava o ex-presidente da Transpetro.
"O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. [...] Ele acha que eu sou o caixa de vocês", diz Machado a Jucá. "Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu 'desça'? Se eu 'descer'...".
"Então eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma saída", diz Machado. Para ele, as delações não deixariam "pedra sobre pedra".
Jucá, então, concorda que o caso de Machado "não pode ficar na mão desse [Moro]", e que seria necessária uma resposta política para evitar isto. "Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria", diz Jucá.
Machado respondeu que era necessária "uma coisa política e rápida". Jucá orientou Machado, diz a Folha, a se reunir com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). Questionado por Machado se seria melhor uma reunião conjunta, Jucá diz que não, pois a ideia poderia ser mal interpretada.
"Não é um desastre porque não tem nada a ver. Mas é um desgaste, porque você, pô, vai ficar exposto de uma forma sem necessidade", diz o atual ministro sobre a possibilidade de envio do processo de Machado a Sérgio Moro, a quem se referiu como "uma 'Torre de Londres'" -- castelo da Inglaterra em que ocorreram torturas e execuções entre os séculos 15 e 16.
Jucá acrescentou que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com tudo", quando Machado diz: "aí parava tudo". "É. Delimitava onde está, pronto", respondeu Jucá, que relatou manter conversas com "ministros do Supremo", sem citar nomes. Para Jucá, eles teriam relacionado a saída de Dilma ao fim das pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Lava Jato.
Jucá afirmou que tem "poucos caras ali [no STF]" ao quais não tem acesso, e que um deles seria o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no tribunal, "um cara fechado".
O agora ministro do Planejamento foi um dos articuladores do impeachment de Dilma Rousseff. O advogado do ministro do Planejamento, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que seu cliente "jamais pensaria em fazer qualquer interferência" na Lava Jato e que as conversas não contêm ilegalidades.
Machado presidiu a Transpetro, subsidiária da Petrobras, por mais de dez anos (2003-2014), indicado "pelo PMDB nacional". No STF, é alvo de inquérito ao lado de Renan Calheiros. De acordo com dois delatores, Machado é relacionado a um esquema de pagamentos que teria Renan "remotamente, como destinatário". Paulo Roberto Costa disse que recebeu R$ 500 mil das mãos de Machado, como contrapartida à obtenção da obra de Angra 3. Jucá diz que os repasses foram legais.
Jucá é alvo de um inquérito no STF derivado da Lava Jato por suposto recebimento de propina. O dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou em delação que o peemedebista o procurou para ajudar na campanha de seu filho, candidato a vice-governador de Roraima, e que por isso doou R$ 1,5 milhão.
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