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Sonho

Cantora de Presidente Nereu realiza sonho da infância

  • Edy ajudava os pais na roça e seguiu um caminho árduo até se tornar cantora (Foto: Arquivo pessoa -

O que era considerado apenas um sonho impossível para quem vivia em uma cidade com pouco mais de dois mil habitantes, tornou-se realidade após anos de luta para mostrar ao mundo um talento que, por muito tempo, permaneceu escondido entre quatro paredes. Natural de Presidente Nereu, Edy Liz cresceu em meio à plantação de fumo que pertencia à família, onde se dividia entre o trabalho na roça — para ajudar o pai — e os momentos que tinha a sós com a música, que a acompanhava através de um rádio.

Ao ser reconhecida pela voz potente durante uma apresentação escolar, a catarinense do interior decidiu que era hora de buscar algo maior. Por mais distante que parecesse a ideia de se tornar cantora, Edy seguiu sua própria intuição e hoje, aos 35 anos, lança a primeira canção solo da carreira, mostrando que acreditar em si mesma pode ser, muitas vezes, a chave para o sucesso.

A 17 quilômetros do Centro de Presidente Nereu, Edy morava com os pais e irmãos na cidade de Santa Catarina onde, nas palavras dela, “todo mundo se conhece”. Apaixonada por música e poesia desde criança, a cantora — que, à época, ainda não sabia do potencial que tinha — costumava acompanhar as rodas de viola que aconteciam em casa, onde reuniam músicos que eram amigos da família.

Até então, nenhum parente de Edy pertencia a esse meio. Desde os sete anos de idade, porém, a catarinense lembra que, enquanto ajudava nas tarefas domésticas, já se imaginava em cima de um palco, soltando a voz para milhares de pessoas. Por ser muito envergonhada, no entanto, a menina, que era apenas uma criança, não tinha coragem de se lançar nesse universo musical.

Para Edy, ouvir o sertanejo raiz pelo “radinho” do pai, que era ligado todas as manhãs e funcionava quase como um despertador para a família, já era o suficiente. Durante a noite, ela chegava, inclusive, a pegar o aparelho, escondida de seu pai, Antonio Tomio, para escutar outros gêneros. Por muito tempo, porém, essa permaneceu sendo a única relação de Edy com a música.

“Eu sempre fui muito tímida e antissocial, ninguém diria que eu viraria cantora. Então eu vi na música uma forma de expressão, porque era ela quem me entendia. Minha mãe brigava comigo porque eu vivia trancada dentro do quarto, lendo e ouvindo música“, recorda a catarinense.

Aos 13 anos, no entanto, um acaso do destino fez com que tudo mudasse. Edy foi escolhida para fazer uma apresentação na escola onde estudava, em Presidente Nereu, por pronunciar bem o inglês enquanto aluna. O que ninguém imaginava é que aquele show mostraria um outro lado talentoso da menina que costumava ser quieta e estudiosa.

Com os comentários positivos e motivadores depois daquele dia — onde Edy chegou a ser, inclusive, comparada à cantora Shakira —, a menina que por muito tempo lutou contra um desejo que a acompanhava desde criança optou por tentar a carreira artística.

Em 2005, aos 16 anos, a catarinense do interior entrou para a primeira banda local que costumava tocar na região de Presidente Prudente. Naquele momento, caiu a ficha de que era esse o rumo que Edy realmente queria seguir. O que também significava que ela teria de abrir mão de muitas coisas para chegar onde sonhava.

O caminho árduo até alcançar o objetivo

Apesar de sempre apoiarem as escolhas e vontades da filha, seu Antonio e dona Osmarina Mafra Tomio tiveram de estabelecer condições para que Edy permanecesse no caminho certo. Mesmo com a rotina de shows nos finais de semana, abrir mão dos estudos nunca foi uma opção. Junto com as tarefas de casa, onde ela e os quatro irmãos ajudavam os pais na plantação de fumo, Edy tinha de dar conta de todas as obrigações se quisesse permanecer como cantora.

“Graças a Deus, eu sempre fui boa aluna. Justamente por ter muita vergonha, eu gostava de tirar notas altas para não chamar a atenção das pessoas. Eu queria estudar porque tinha vontade de sair do interior e dar uma vida melhor aos meus pais, apesar de gostar do lugar. E eu sabia que estudando ia conseguir uma abertura maior para isso“, explica.

Logo que completou 18 anos, a adolescente que estava só no começo da vida adulta decidiu ir embora da casa dos pais. Ao se mudar para o Centro de Presidente Nereu, ela enxergava uma oportunidade de crescer na carreira musical. Mas isso também não queria dizer que tudo seria mais fácil a partir daquele momento — muito pelo contrário.

Para conseguir se manter, Edy chegou a ter quatro empregos ao mesmo tempo. Trabalhava como garçonete ao meio-dia, agente de saúde no período da tarde, era babá à noite e, nos finais de semana, ainda fazia shows musicais. Tudo isso para buscar um sonho.

“Eu tive que encarar o mundo já que era isso o que eu queria. Meu pai esperava que eu só saísse de casa casada, porque seria mais seguro para uma moça do interior, para não ficar sozinha. Ele ficou muito apreensivo. Mas minha mãe conversou com ele e meu pai viu que era isso o que eu queria“, relembra.

Dona Osmarina, inclusive, foi a maior incentivadora da filha, conta Edy. Ela morreu em agosto do ano passado, aos 68 anos. Para Edy, porém, não há dúvidas de que a mãe segue acompanhando cada passo da carreira musical dela, especialmente agora, onde quer que esteja.

“Mas eu sei que hoje ela está vendo tudo. Esse apoio sempre veio dela“, ressalta.


Deu tudo certo

Apesar de ter lançado a primeira música autoral nesta sexta-feira (19) — ouça aqui “Sentimento Louco” —, Edy começou no solo sertanejo ainda em 2013, quando também se juntou à banda Seven, em que permanece até os dias atuais.

Ao todo, já são 13 anos no ramo musical, cantando em diferentes eventos pela região. Agora, no entanto, ela sobe mais um degrau na carreira que, por muito tempo, foi desacreditada por ela mesma, quando criança.

Isso porque no interior é comum que algumas crenças sejam passadas de geração em geração, onde um sonho que parece distante deve ser deixado para trás, explica Edy. Assim, a dura realidade de muitos acaba impedindo algumas pessoas de conhecer novos horizontes — para além da rotina na roça e do trabalho no campo.

“A gente não tinha muitas condições, viemos de uma família muito simples, humilde, que plantava fumo. De onde a gente vem, somos criados para trabalhar com aquilo que dá dinheiro. Mas a minha intuição falava mais alto. Eu queria cantar“, ressalta.

Anos depois, Edy subiu a um palco no Réveillon de Balneário Piçarras, onde se apresentou para cerca de 100 mil pessoas pela primeira vez. Naquele dia, ela lembra de voltar para casa e pensar no tempo em que era apenas uma criança que sonhava em trabalhar com música. Naquele momento, isso já estava se tornando realidade.

Mais tarde, em 2018, Edy também se formou em estética, o que a ajudou a sobreviver durante o período da pandemia, já que tinha outra opção de emprego além da música. Ainda assim, é em cima de um palco que o coração dela segue batendo mais forte.

Atualmente, Edy mora em Blumenau, onde aposta na carreira enquanto cantora. Para o futuro, ela espera compor ainda mais canções e mostrar ao mundo um talento que ficou guardado na gaveta de uma casa em Presidente Nereu durante anos. Assim, para Edy, ter chegado até aqui com a trajetória que construiu ao longo dos anos, já é sinônimo de sucesso.

“Só o fato de eu ter colocado uma música para lançamento já é uma realização pessoal. Porque eu me desprendi de todas as crenças e medos, o que veio também com a terapia. Foi quando eu finalmente consegui tirar aquela Edy do quarto, com o vilãozinho, e colocar isso para o mundo. E agora eu espero que as pessoas se conectem com isso. Porque na carreira eu vou levando a minha verdade, a minha essência, que é a do interior“, finaliza.

Fonte: Ana Carolina Metzger / Jornal de Santa Catarina / NSC Total

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